“Startando” o processo, identificando um gap

Alguns anos atrás, era moda conjugar em português o verbo inglês start. “Precisamos startar o processo”, dizia o gerente de uma famosa emissora de rádio em que trabalhei, quando queria nada além do que dizer “parem de me enrolar e vamos começar logo isso, que já tá demorando demais”. Mas o chique era startar, impressionava os subordinados aquela intimidade com a terminologia dos manuais de administração.

Mais antigo ainda é o tal do up grade. Era preciso melhorar algo, dava-se logo um up grade que a coisa funcionava. Fulana cortou o cabelo, tá se vestindo melhor? Ah, foi porque deu um up grade no visual. Esse parece que foi extinto, nunca mais ouvi. Talvez, fora de moda, dar um up grade possa ter até significado contrário hoje em dia.

Publicitários não têm trabalhos para fazer. Eles executam jobs. “Ai, peguei um job que tá me matando!”, e aflitos repetem a palavra, mesmo que o interlocutor seja um simples mortal que entenda apenas de trabalhar.

O jornalista Leandro Fortes confessa sua falta de paciência com quem anda de bike, e eu me lembro que na minha adolescência a gente montava no “camelo” e saía pedalando por aí, porque andar de bicicleta era coisa de gente que tinha a idade que eu e Leandro temos hoje.

Atualmente, parece-me que a estrela importada do vocabulário dos outros é gap (se você não sabe inglês, fala-se guépi). A nova palavrinha da moda significa espaço, lacuna, e todo mundo agora acha que precisa aproveitar os gaps que existem nos vários setores da vida humana. A qualquer hora ouço que há um gap aqui, ali, acolá.

É chique, é moderno e quem fala passa a imagem de antenado, de contemporâneo.

Mas me dá um soninho…

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