Meninos, eu vi!
E ouvi.
E dancei, e me esbaldei e fiquei todo cagado do lamaçal que virou aquele terreno lá nos cafundó do cafundó que sempre foi Jacarepaguá. E assim, imundo, maltrapilho, cheguei de manhã em casa no dia seguinte pro horror dos meus pais, apavorados com meu sumiço, pois houve época em que não havia celular para rastrear os filhos. E de manhã, imundo e feliz, cheguei igualmente nos outros dois dias de show a que fui assistir.
Jamais vou me esquecer do Fred Mercury há menos de cem metros de mim cantando We Will Rock You; do David Converdale girando que nem um doido o pedestal do microfone; do Rod Stewart chutando bola pro alto pra cair na platéia; do Iron Maiden e do AC/DC, bandas ainda tão jovens na época, enlouquecidos e enlouquecendo; da louca da Nina Hagen; das viadagens oitentistas do B`52; do Lulu Santos praticamente ainda um moleque, bem longe de ser um coroa chato; do Hebert Viana de óculos e magrinho; do Barão com o Cazuza e o Cazuza anunciando que o Tancredo havia sido eleito e que acabara de acabar a ditadura militar no Brasil. Não, o Legião Urbana não foi, era ainda uma banda pouco conhecida que havia lançado o primeiro disco alguns dias antes.
Meninos, eu vi!
E ouvi. E me acabei naquele janeiro cada dia mais distante, e imundo de lama, insone e feliz (feliz demais), assisti a bem mais do que um festival de Rock (95% mais Rock do que hoje): assisti à história acontecer.