Navio

No geral a vida se parece mesmo com uma viagem de navio. Agora já estava em alto mar, embora as luzes do último porto pudessem ainda ser vistas. Imensidão maior que a das águas, só a da certeza de que embarcar era mesmo necessário. Saudade era coisa como alguma daquelas constelações infinitamente acima: estavam lá, mas eram intangíveis. Imaginar quanto tempo de calmarias ou tempestades, dias impiedosos de sol e noites inquietas de solidão, só resultava no cálculo impreciso da ansiedade. Inclusive o destino, a chegada, era bom que reconhecesse, por via das dúvidas: não era inteiramente seguro que alcançasse. Só os portos que deixamos existem de fato, só eles são verdadeiramente seguros, daí tornarem-se esgotados de emoções e vida. Dele – do destino –  trazia imagens formadas na mente a partir do que escutara de alguém em uma ou outra ocasião. Por isso essa sensação de imigrante faminto, esperançoso e incerto que saiu da Europa e veio para o Brasil no século 19.

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