Quando não perdemos nada demais

Afastado da imprensa diária há pouco mais de dois anos, pouco tenho visto os telejornais, especialmente os da manhã. Confesso que, embora precisasse assisti-los mais, não tenho sentido muita falta.

Por causa de uma situação que me exigiu, além de chegar cedo, duas horas de espera numa sala, voltei aos tempos de telespectador matutino.

De cara, deparo com a reportagem sobre a liberdade de Carlinhos Cachoeira. Após triviais explicações sobre os motivos de o bicheiro voltar a respirar ares de liberdade, a matéria corta para a meteórica “entrevista” da mulher do contraventor.

Achei que os repórteres já não conseguissem mais ser tão óbvios e patéticos em suas perguntas. Mas eles são. À estonteante loura é perguntando tão e somente se ela está feliz e o que ela vai dizer para ele. Nada, absolutamente nada de uma ousadia do tipo “como a senhora se sente com ele sendo libertado mesmo condenado pela Justiça por corrupção?”

A pergunta parecia uma poltrona reclinável, tamanho conforto ofereceu à louraça que pode ser considerada a primeira dama do (esse sim) maior escândalo de corrupção dos últimos tempos. Ela, dona dos holofotes, responde radiante que está muito feliz e que ama muito o marido (ou ainda é noivo?), que por coincidência negligenciada na matéria, é o mesmo que fez um senador e um governador de fantoches.

E ela responde como se fossem inocentes, como se alguma cruel injustiça houvesse durante esses (poucos) meses separado esse casal tão puro de coração e imbuído de bons propósitos.

E sequer uma palavra na reportagem trata de desfazer esse mal entendido.

Tiro os olhos da tela, pego uma revista que levei comigo (por sinal, a ótima meia um) para suportar a espera, com a tranquila certeza de que realmente não tenho perdido nada demais.

A balança

Hoje as mídias sociais demonstraram, mais uma vez, que podem realmente ser mais informativas que a mídia tradicional, mesmo a versão on line desta.
Enquanto o site do principal jornal da capital do país sequer dizia que a cidade estava se acabando na versão moderna do dilúvio de Noé, as pessoas  postavam fotos de ônibus praticamemnte submersos, exemplificando o inferno que foi voltar para a casa em Brasília, a mesma cidade cujos governantes se gabam de ter a maior qualidade de vida do país.
Mas é compreensível que a mídia tradicional veja a balança da rapidez, da agilidade e, especificamente no caso de hoje, também da credibilidade pender em seu desfavor.
Enquanto continua crescendo o número de membros de uma rede social como o Feici Búqui, permanece caindo a quantidade –  e a qualidade – de jornalistas nas grandes redações.

Carrossel, do SBT: inocência e pureza na TV

Não me parece tarefa fácil escolher uma boa programação diária de TV para as crianças de hoje em dia.

Como pai, procuro fugir da obviedade de canais a cabo como o Disney channel, na minha opinião mais preocupado em condicionar as cabeças dos pequenos para assistirem, quando grandes, às obviedades produzidas para os adultos nos outros canais pagos.

Deixá-los expostos à hemorragia dos telejornais e à vulgarização do ser humano ou as receitas de mau ‘caratismo’ exibidas pelas novelas não é, definitivamente, o rumo para se construir uma sociedade melhor. Também não tenho como opção certos desenhos animados capazes de pôr medo até nos adultos.

É claro, sempre há o caminho recomendável dos livros, mas assisir televisão é necessário por que já faz parte da nossa cultura. É até difícil de acreditar, levando-se em conta o nível geral da programação de hoje em dia, principalmente da TV aberta, mas se trata sim de um meio que pode contribuir positivamente para a formação moral de uma pessoa.

E por incrível que pareça, é na TV aberta, mais precisamente no SBT do senhor Sílvio Santos, cuja preocupação maior não parece ser com a qualidade da programação, que encontrei algo condizente com os valores que procuro ter e passar para as minhas filhas.

A novela Carrossel fala de amizade, solidariedade, companheirismo e respeito (aos professores, aos mais velhos, aos animais), sem mostrar a criança como ser infantilizado e, de uma certa forma, imbecilizado.

É claro que a produção passa longe do que se faz no Projac, e os atores, entre eles a maioria dos adultos, certamente não receberão prêmios pelas atuações, mas não me parece que na Globo ou na Record exista alguém dando aula de dramaturgia no ar.

O mais importante é que roteiro e texto levam para as crianças que estão em casa outras crianças, espertas, ativas, engraçadas, preservando o que, na vida real, têm de melhor: a pureza, a inocência, isso mesmo que tantos programas de TV parecem lutar para roubar delas.

Rolar para cima