A doença é do outro, a quarentena é sua

Por Michelle Mattos*

http://revistaglamour.globo.com/
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Não cliquei no post sobre a polêmica envolvendo pedofilia no master chef Jr.

Não tive estômago pra ler as confissões do movimento super válido‪#‎primeiro‬ assédio

Ainda assim vejo com ótimos olhos a discussão. É preciso falar, comentar, dar conhecimento a essa realidade pra combater.

Mas é que pra quem habita um corpo feminino, isso não é novidade. Qual menina nunca ouviu de uma colega/amiga um relato de abuso? Qual menina nunca viu, depois que uma confessou, várias outras no mesmo círculo assumirem que foram vítimas também.

São muitas histórias. Abuso de um familiar, de um amigo da família, quando ainda se é pequena. E aí você cresce e o drama continua. No metrô, no ônibus.

Você estuda insanamente pra passar numa universidade federal. Aí você passa e não pode fazer certas disciplinas porque é perigoso o caminho até o prédio. É isolado, pouco movimentado. Vocêc é menina, lembra? Melhor não arriscar.

E no trabalho, você, que nada fez, se vê evitando ir a certos lugares pra não esbarrar com o engraçadinho que acha que tá agradando ao ficar enchendo seu ouvido com umas insistidas desnecessárias, insuportáveis, invasivas.

Habitar o corpo feminino tem isso. É tão comum que às vezes a gente nem se toca. A gente só deixa de ir, de falar, de vestir, só pra não ouvir ou atrair.

A doença está no outro, mas é você é quem fica em quarentena.

*Michelle Mattos é jornalista

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