A histérica e escravagista classe média brasileira

Há não muito tempo presenciei a preocupação de uma alta funcionária pública, grávida de sete meses e mãe de um outro filho ainda pequeno. Ela empregava uma babá, mas reclamava da dificuldade em conseguir uma segunda, e todo seu tormento era dar conta de dois filhos com apenas… uma babá.

Há uma cena que não é incomum, ao menos nos ditos bons restaurantes de Brasília. O casal chega no início de uma tarde de domingo, trazendo na maioria das vezes somente um filho e, a tira colo, uma mulher, invariavelmente negra ou nordestina – às vezes, as duas – para cuidar do pupilo. Em alguns casos, a mulher ao menos se senta à mesa, mas não raro também é encontrar as que não recebem permissão para isso, e ficam ali, serviçais constrangidas por um ambiente extremamente destoante da realidade particular de cada uma.

Agora – meu Deus! Como será? – sinhazinha e sinhozinho terão que pagar uma série de direitos trabalhistas se quiserem continuar almoçando aos domingos sem que lhes roube o sossego o filho que puseram no mundo.

A ampliação dos direitos trabalhistas das domésticas é uma chamada à realidade de uma parcela da população brasileira que insiste em costumes escravagistas em plena segunda década do terceiro milênio. Mesmo que de forma aparentemente involuntária praticam esse mal achando que estão fazendo o bem, como certa madame do Lago Sul – bairro nobre da capital do país – que só dava folga para a empregada em apenas um domingo de 15 em 15 dias, mas mostrava a consciência tranquila explicando que “fulana come e dorme de graça aqui em casa”.

Analistas arriscam, com certo folga, que essas mudanças reduzirão bastante a oferta de trabalho para as domésticas. Esta semana, soube de escolas onde aumentou a procura dos pais pelo turno integral para os filhos, sinal provável de que estão dispensando ou desistindo de contratar babás, o que confirmaria o paplpite dos entendidos. E é bom lembrar que a escola certamente é bem melhor preparada para cuidar de uma criança do que pessoas que exercem esse ofício porque não tiveram outra oportunidade profissional na vida.

Previsões postas de lado, seria uma evolução social no país o desaprecimento dessa nódoa da escravidão.

Se colocamos filhos no mundo, nós que os assumamos e deles cuidemos, com todas as alegrias e desconfortos que isso representa, e que nos conveçamos – inclusive os homens – de que somos perfeitamente capazes de cozinhar, lavar e passar, mais ainda nesse mundo maravilhoso de lavadoras, secadoras, micro ondas e afins.

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