A necessidade do coração mole

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A alta funcionária do banco é conhecida pela boa vontade com todos. É companheira, amiga, solidária. Nem precisa conhecer a pessoa: se souber que alguém precisa de ajuda, dá um jeito de parar o que está fazendo e sair em socorro. É meio aquele tipo que fica com frio, mas dá o casaco pra quem ela acha que precisa mais.

Também trabalha demais no banco, essa máquina de moer carne e triturar ossos humanos.

Outro dia, num exame de rotina, descobriu um problema no coração.

– Parece que a senhora teve, inclusive, um enfarte, é o que o exame mostra.

Seu queixo foi no chão. Mas como, se não havia sentido nada? Nunca nada no peito, em momento algum, tirando as ocasionais angústias de viver.

– Acontece às vezes. A pessoa enfarta e nem sente… – o médico observou.

Quando contou pros colegas do trabalho, o espanto foi igual. Uma amiga virou pro chefe:

– Ô fulano, beltrana teve enfarte!

O chefe, pose de capataz de fazenda do século 19 e figura exponencial na atividade de moer carne e triturar ossos de pessoas, riu, com aquele sarcasmo que nos dão ímpetos de murros no nariz.

– Eu já sabia que o problema dela é coração. Coração mole.

O que ele não sabe, nem desconfia, é que o problema dele, do estado islâmico, dos franceses na Síria, dos americanos no Iraque, e dos que abandonam crianças, maltratam velhos e torturam animais é justamente o oposto: coração de pedra, pedra fria, áspera e pontiaguda.

E esse problema sim, esse é nocivo à humanidade.

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