Pois eu acho que o mais importante das manifestações é justamente elas não terem a tal da pauta objetiva, fechadinha, prontinha para ser posta em panfletos e faixas verde – limão.
Me dão asco as manifestações daqueles nichos do serviço público com seus carros de som ensurdecedores e com todo mundo vestindo a mesma camiseta branca pedindo aquilo que só interessa ao próprio umbigo: o pagamento da gratificação tal, o cumprimento do acordo tal, a bonificação retroativa a sei lá quando. Esse tipo de manifestação sim prejudica o trânsito, atrasa a vida das pessoas, o país, porque é egoísta, porque protesta em favor do próprio interesse e bolso.
Cada um de nós, mesmo que critique, está representado nas passeatas dos últimos dias, porque, ao que tudo indica, tratam-se das manifestações do saco cheio, da paciência esgotada, e não existe no país de hoje pauta mais objetiva do que essa.
É inegável que o Brasil é melhor do que era dez anos atrás, e para que não soe partidário, também é inegável que o país em 2003 era melhor que aquele de uma década antes.
O que, no entanto, não mudou a nosso favor é o jeito de fazer política, que na verdade nunca foi “fazer política”, mas sim servir à politicagem.
O partido que está no poder – com a ajuda do meu voto, inclusive – está há dez anos desperdiçando justamente a chance de mudar a posição da chave de politicagem para política. Mais do que uma expectativa, havia uma certeza de que ele faria isso, mas o que se vê é o caminho na direção oposta a nossa antiga esperança.
E é por isso que quase 300 mil botaram para quebrar ontem à noite.
Não é mesmo por causa de R$ 0,20, mas sim contra uma filosofia de poder, de governar, que está em piores condições que o transporte público, as escolas, os hospitais.
Essa é a pauta.
Quem importância há, então, se apenas uma pessoa apareceu na reunião num acarpetado e refrigerado gabinete de Brasília?
O que tem que ser dito está sendo dito nas ruas, não precisa de reunião para isso.
O poder que entenda o recado e cumpra a pauta.
PS: Presidenta Dilma! Aproveite a chance! Mande às favas a governabilidade! Prefira o povo ao Afif, por exemplo, que a senhora ainda tem chance.