A preocupação social como forma de sobrevivência

A elite brasileira precisa definitivamente deixar de ter olhos voltados apenas para seus lucros, rendimentos e conforto e se dar conta de que está, enfim, encurralada pela miséria social do país.

O recrudescimento da guerra urbana no Rio – alimentada em boa parte, convenhamos, pelos narizes chiques de Ipanema, Leblon e Gávea – é mais uma oportunidade para que os ricaços acordem.

As Unidades de Polícia Pacificadora atualmente só existem no papel porque, à época, a bem sucedida ação policial não foi precedida de qualquer planejamento para resgate social nas áreas carentes. Carentes de tudo, diga-se de passagem.

Agência O Globo
Agência O Globo

Os ricaços desse país, um clube de algumas dezenas com mais dinheiro do que milhões juntos, possuem todas as condições de cobrar do Estado a elaboração de um grande pacote, plano, estratégia ou seja lá que nome tenha, que traga, finalmente, justiça social. Até porque, a não ser em raríssimos episódios, quem sempre esteve com a mão no leme do Estado foi a própria elite.

Os governantes que serão eleitos em 2018 (isso se não acontecer nenhum outro desastre democrático) não podem pedir votos se não mostrarem consistentes planos de resgate social. Planos de governo que falem em escolas, em postos de saúde, em geração de emprego, em cultura, em esporte. Planos de governo que abram oportunidades para todos.

E tem ser algo tão levado a sério pela elite quanto são equilíbrio fiscal, reforma trabalhista, da previdência.

E a elite tem condição, tem força para exigir isso.

Ricaços

Porque senão a Lagoa- Barra vai continuar sendo fechada por causa de bala de fuzil partindo da Rocinha, e ninguém vai conseguir chegar com seu porsche no seu condomínio de luxo de frente pra praia.

Porque senão vai continuar triplicando o número de moleques no sinal dispostos a fazer besteira por causa de qualquer objeto que lhes encha os olhos e atice a cobiça.

Do jeito que a coisa vai, em pouco não haverá escolta armada, guarda patrimonial, carro blindado, cerca elétrica ou câmera de vigilância que deem jeito. Essa crosta de miséria vai invadir para tomar o que nunca teve e não vai pensar em poupar ninguém.

A elite precisa acordar e cobrar isso de quem ela própria escolhe e prepara para governar. E ela mesma pode arregaçar as mangas e pôr as mãos na massa. O que custa para uma grande empreiteira, por exemplo, construir – sem querer em troca benefício fiscal – uma escola em um bairro carente?

Em outras palavras, é pensar assim: ou a gente melhora a vida deles, ou eles vão, sim, acabar com a gente.

E como provavelmente não será por genuína preocupação social, que seja, então, pela própria sobrevivência e amor à pele.

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