A única mulher que andou na linha o trem matou

A frase é antiga, provavelmente apareceu pela primeira vez em algum parachoque de caminhão, mas era muito vista também nas décadas de 70 e 80 em adesivos colados em parabrisas.

É engraçada, mas não é só isso. Reflete a ligação cultural e memorial do brasileiro com o trem.

Antes da opção desenvolvimentista pelas rodovias, o Brasil andava de trem. O trem do sertão, do litoral, da serra. Onde houvesse possibilidade de pôr trilhos, Maria Fumaça & seus blue caps carregavam gente, bicho, carga, comida.

Mas levava e trazia também poesia e letras de músicas.

Em Encontros e despedidas, Milton Nascimento diz que “O trem que chega é o mesmo trem da partida”. Para Raul Seixas, em uma de suas mais belas canções, “não precisa passagem nem mesmo bagagem no trem”. São apenas alguns exemplos, fora Adoniram (Trem das onze, como não citar?), Boca Livre (Toada) e por aí vai.

O trem é metáfora até hoje em nossos diálogos. “Ô fulano! Tá esperando o trem passar, é?” perguntamos quando alguém está enrolando.

Há um ensaio, embora tímido, de se ressuscitar o transporte ferroviário ao menos em algumas regiões desse país que, erradamente, saiu dos trilhos. No centro-oeste, a ideia de ligar Brasília a Goiânia de trem vem ganhando corpo.

Os experts em logística, em custos e em transportes confirmam o que qualquer leigo pode supor. De trem, as mercadorias ficam mais baratas e pode ser que a vida pese menos em nossos bolsos, ao menos em tese, lembrando que no Brasil nem sempre o que é óbvio, quando a favor do povo, se concretiza.

Torço para que o trem volte a ter a força que teve no passado. E se com ele a vida não ficar mais barata, que ao menos traga de volta o humor e a poesia que tanto nos inspiraram.
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