Adeus blog velho, feliz blog novo!

Amanhã entra no ar a nova versão do meu site e do meu blog. O carrinho amarelo, que durante quatro anos serviu de mote para minha página na internet por ocasião do lançamento de meu livro A Liberdade é Amarela e Conversível, sai de cena. Em seu lugar, entra um novo conceito de página e de blog,  centrados na minha figura como escritor. Os detalhes e o visual novo vocês saberão e verão amanhã.

Para me despedir desta antiga versão, com a qual aprendi a escrever para a grande rede, deixo com vocês dois textos publicados em janeiro deste ano, e que falam justamente de transformação, de mudanças, disso que, assim como a morte, é inevitável: o passar do tempo. Vejo vocês amanhã, com nova cara, mas com o mesmo amor por esse ofício que escolhi como forma de interpretar o mundo: escrever.

*

As estranhas réguas do tempo 1 e 2

 

É difícil, em um início de ano, fugir de qualquer reflexão sobre o tempo, sejam as banais os as que requerem maior engenharia.

Comecei minha vida profissional trabalhando com pessoas nascidas nos anos 40 e 50, ou até mesmo mais velhas, com idade para serem meus pais.

Minha geração, nascida nos anos 60, saiu da universidade, consolidou-se no mercado e viu chegar os filhos da década de 70. Mesmo que ainda não fosse tanta, já possuíamos alguma experiência para passar a eles.

Quando o novo século entrou, as pessoas que nasceram nos anos 80, portanto na minha adolescência, apareceram para ajudar nossa adaptação à reviravolta tecnológica do planeta. Ao lado deles, compreendemos, de uma hora pra outra, que fax e CD estavam obsoletos.

Dez anos se passaram e eis que, duas semanas atrás, pouco antes do natal, a estagiária pega e me conta que nasceu em 1994. Fiquei calado observando os movimentos ágeis de seus dedos na tela do smartphone, pensando como é possível que alguém que nasceu em 1994 já esteja aqui, ao meu lado, trabalhando, aprendendo o meu ofício. Aliás, como é possível que alguém tenha nascido em 1994 e já tenha idade para ser minha filha?

O tempo nos oferece estranhas réguas para medirmos o quanto ele passa.

E o quanto estamos envelhecendo.

***

Há nove anos minha carteira de trabalho não saía da gaveta. Todo esse tempo trabalhei como pessoa jurídica, figura cada vez mais fácil nas redações e assessorias de comunicação país afora.

No caso de algumas empresas, contratar como PJ realmente viabiliza a oferta de trabalho. Pela CLT seria inviável e um posto de trabalho estaria fechado. Em outros, no entanto, é esperteza patronal disfarçada de modernidade na relação trabalhista.

Julgamento de mérito à parte, minha surrada carteira viu a luz do sol depois de muito tempo e eis que sou pego de surpresa pelo rapaz do departamento de recursos humanos: “não há mais espaço para contrato de trabalho, você terá que tirar outra”, me avisa tranquilo, devolvendo-me o livreto amarelado que certamente é mais velho do que ele.

Sentei num canto e folheei suas pequenas páginas, e os anos de minha vida profissional passaram manchados de canetas e carimbos. Mas essas marcas não são apenas borrões, são mais ainda lugares, pessoas queridas ou desprezadas, alegrias, sonhos e desilusões.

Gabriel Garcia Marques diz que um homem descobre que está envelhecendo quando começa a se parecer com seu pai. Hoje descobri que isso acontece também quando a carteira de trabalho acaba e não há mais espaço para carimbos e canetadas, e ficamos com um ar abestalhado, segurando o documento, pensando que o tempo deveria ter mais consideração e não nos pegar de surpresa quando fosse avisar que está passando e que estamos mesmo envelhecendo.

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