Ainda é tempo de protestar sim

Dou razão aos que dizem que agora não adianta mais protestar contra a realização da Copa do Mundo no Brasil.

Realmente, isso tinha que ter sido feito cerca de cinco anos atrás, no dia em que o Brasil foi escolhido, e o Lula apareceu abraçado ao Blatter e ao Ricardo Teixeira, essa sim, mancha irremovível – e injustificável – na trajetória do ex-presidente.

Não adianta mais protestar.

Não contra isso.

Mas ainda dá tempo, e vale muito a pena, ir pra rua e gritar para que haja realmente o tal legado da Copa, que nos foi vendido em troca de apoiarmos o Brasil como sede do evento.

E é bom mesmo que ponhamos a boca no trombone, pois, pelo que se anuncia, o tal legado nos será negado, com perdão da rima pobre.

Em Brasília, o Veículo Leve sobre Trilhos, promessa de melhoria para a mobilidade urbana, virou lenda, encrenca nos tribunais e, pra variar, dinheiro posto fora, já que se gastou para fazer o projeto e abrir um canteiro de obra que está abandonado, cuja serventia atual é só enfear a cidade e atrapalhar o trânsito, prejudicando, ironicamente, a mobilidade urbana.

No Rio, me parece sem muita convicção o discurso de que a Baía de Guanabara está sendo despoluída, e que a meu ver seria o principal benefício que o carioca teria com as Olimpíadas, outro evento propagado como a redenção da estima nacional perante o mundo.

Isso sem falar na formação de uma cultura olímpica em nossos jovens, em nossas escolas públicas, para que realmente pudéssemos sonhar com a equiparação competitiva, algum dia, aos países papadores de medalhas. Essa cultura olímpica, definitivamente, não foi nem rascunhada.

Copa do Mundo e Olimpíadas ofereceram, mais do que qualquer outra coisa, a oportunidade de o Brasil finalmente aprender a se planejar, esquecer no passado o seu modo torto de improvisar tudo e achar, equivocadamente, que a coisa sempre acaba dando certo. O atropelo na ampliação dos aeroportos mostra que mais uma oportunidade está sendo perdida.

Por isso acho que é tempo de protestar sim, não contra o que já foi feito, possivelmente roubado, mas pelo que ainda pode ser feito para, de verdade, beneficiar a população.

Vamos antes que seja tarde também, e o único legado seja aquele que vai encher os bolsos da meia dúzia de sempre.

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