Quando a propaganda é espelho da desigualdade
Desde que alguém percebeu que os veículos de comunicação, além de levarem informação e entretenimento, poderiam se tornar ótimos vendedores, não é exagero imaginar a propaganda como espelho do pensamento e dos anseios de uma sociedade.
Creio que tardiamente tomo conhecimento do site publistorm.com e tenho acesso a uma postagem de quase três anos (http://migre.me/fXKUs). Quem acessar, verá peças publicitárias que, se veiculadas hoje em dia, seriam objeto não apenas de denúncia aos conselhos de publicidade, mas às próprias barras da Justiça criminal.
Em um deles, um homem dá palmadas no traseiro da esposa, como se fosse ela uma criança. No outro, outro homem pisa um tapete que tem na borda a cabeça de uma mulher, uma imitação grotesca daqueles tapetes bem cafonas feitos com pele de urso ou tigre, e que em alguma vez já vimos em filmes antigos ou quiçá mesmo em cores vivas.
Os anúncios foram feitos para ser engraçados à época, calculo eu que por volta dos anos 1950, e, se hoje causam indignação, traduzem a visão ocidental e oriental – que, ao que me consta, em nada é superior à primeira quando o assunto é relação homem/mulher – que se possuía dos papeis masculino e feminino nesse planeta de desigualdades.
O ponto positivo é a certeza de que houve progresso na percepção sobre esses papeis, e também sobre a de outros que, ao longo da história da propaganda, devem ter servido de piada infeliz dos publicitários.
Mas o progresso não é ainda satisfatório.
Talvez se aproxime disso quando finalmente nos insurgirmos contra o tratamento de mulher objeto dado principalmente às louras nos comerciais de cerveja, ou quando não aceitarmos que, em um país predominantemente mestiço, os anúncios ainda pareçam ter sido gravados na Suécia.