Você que não mora em Brasília, ou sequer a conhece, talvez não saiba que ela não é exatamente uma repartição a céu aberto.
Antes de ser capital do país, é uma cidade.
Com gente morando.
E onde há gente, há problemas.
E um deles, em Brasília, parece ser a vontade inabalável de parte da sociedade, incluindo o estado, de torná-la a capital nacional, quiçá mundial, da chatura e da caretice.
O portal Metrópoles noticia hoje que uma chilena foi presa no metrô de Brasília porque estava cantando (http://www.metropoles.com/distrito-federal/chilena-e-presa-apos-cantar-em-estacao-do-metro-df ). Seguranças deram-lhe uma espécie de chave de braço não porque ela estava fazendo arruaça, depredando o patrimônio, roubando outros passageiros, mas porque estava cantando.
Música no metrô, que mundo afora e mesmo no Brasil torna estações locais menos inóspitos, é proibido por decreto em Brasília.
Duas semanas atrás, o mesmo portal noticiou que em um prédio de uma quadra nobre as crianças eram proibidas de brincar na portaria.
Moradores que se recusam a viver numa cidade morta foram para baixo desse prédio (aqui chamam de bloco) e fizeram manifestação com palhaços, brincadeiras de roda e coisas afins. Parece que deram jeito na insensatez do estatuto do condomínio.
Mais conhecida talvez seja a Lei do Silêncio, que proíbe música ao vivo nos bares.
Admito em alguma parte a razão das pessoas que moram junto a esses lugares, mas quem pode viver num lugar em que não se ouve um som de violão, uma voz afinada atravessando a noite?
Neste caso, até o momento pelo menos, nada de consenso, nada de um meio termo, apenas a construção da chatice e da caretice.
Brasília, a capital do país, acusada injustamente de ser a culpada pela cultural e enraizada roubalheira nacional, é uma cidade que adoece mentalmente a passos largos.