A mesma praia

Tumor

Não tiro de forma alguma a validade das manifestações de hoje, convocadas por MBL & Cia.

Para livrar o Brasil do fascismo e do risco diário e permanente que corre nossa democracia, eu votarei – se preciso for – até na hipocrisia do Partido Novo.

Quando se tem câncer, o importante é extirpar o tumor (em nosso caso, um sarcoma extremamente maligno) e depois saber se faremos quimio ou radioterapia.

Mas não me exijam estar junto de quem votou e fez campanha para Eduardo Cunha e espalhou Brasil afora adesivos de Dilma Rousseff de pernas abertas para ser posto na tampa de tanques de gasolina.

Lembrem-se de que um dos que convocam as manifestações de hoje dizia que universitária de esquerda é que nem miojo: está pronta para comer em cinco minutos.

Há uma tentativa de se remeter à união supra partidária que existiu em torno das Diretas já, 37 anos atrás.

Quando escutar isto, pense no nível dos políticos daquele distante 1984.

Portanto, torço para que as manifestações de hoje encham as ruas, mas para sair de casa e gritar #Foragenocida prefiro estar entre os que frequentam a mesma praia que eu.

A minha história secreta com o Rock’n Roll

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Quem me vê em fotos com camisetas dos Beatles, Stones & Cia, ou me vê postando links dos garotos do Greta Van Fleet, não imagina que um disco de trilha sonora de novela foi um dos principais responsáveis por eu me tornar um fã irreversível do Rock’n Roll.

Por ocasião da passagem do Tarcísio Meira, esse monstro da dramaturgia, minha irmã desencavou esse disco e me mandou as fotos há pouco.

Minha mãe era fã do Tarcísio e não perdia um capítulo dessa novela, que foi ao ar quando eu tinha sete anos.

Acho que ela ganhou o disco de presente do meu pai, mas quem se acabava mesmo de escutar era eu, alucinado com Elvis cantando Blue sued shoes, Neil Sedaka mandando Oh, Carol! e Stupid Cupid e Bill Halley e seus cometas com o hino Rock Around the Clock.

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Não há como esquecer o que eu sentia quando o braço da vitrola levava a agulha a tocar o vinil e a pauleira começava.

Uma corrente elétrica atravessava meu corpo (e é assim até hoje).

Não há como negar que, assim como o rádio, as trilhas de novelas foram responsáveis por ajudar a formar o gosto musical de umas duas gerações, pelo menos.

Um ano depois de Escalada, veio Estúpido Cupido, que tinha Ney Latorraca interpretando o lendário Mederix, e o roqueirinho aqui pediu os dois vinis, a trilha nacional e a internacional (porque havia as duas), e consolidei de vez minha paixão por esse ritmo que, em minha opinião, sempre será sinônimo de juventude, alegria, protesto e rebeldia.

Hey, hey! My my Rock’n Roll can never die!!!

Constatação

A derrota do voto impresso na Câmara dos Deputados, embora com 229 deputados favoráveis (entre os obtusos e os amedrontados), deixa mais uma vez clara a importância do Congresso Nacional, e ainda mais consolidada uma certeza: votar (e acompanhar seu trabalho depois) em um bom deputado e em um bom senador é ainda mais importante do que votar para Presidente da República.

Lágrimas

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Nunca tive medo de injeção e jamais imaginei que pudesse chorar tomando uma vacina.

Mas não segurei as lágrimas, que não foram de dor, até porque você praticamente não sente nem a picada nem o líquido entrando na corrente sanguínea.

Chorei de alegria porque bateu uma esperança forte de que esse horror, esse inferno irão sim acabar.

Chorei de emoção pela ciência.

Pela medicina

Pelas equipes de saúde.

Pela saúde pública.

Pelo SUS.

Em respeito a todos que morreram.

Chorei pedindo pela nossa democracia.

Por um país que encontre a paz.

PS: Elogio à equipe de vacinação que está no Parque da Cidade, em Brasília. Verdadeiros anjos cumprindo com amor o seu papel.

Dica – Prajna CD de Ricardo Almeida e Lucilaine Reis

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Conheci o poeta, compositor e músico Ricardo de Almeida ainda nos anos 80.

Participamos de alguns saraus coletâneas de poesia bem chinfrins, em que basicamente o que havia era “batatinha quando nasce”, nas palavras do próprio Ricardo.

Partimos para fazer juntos um sarau do nosso jeito, com a pretensão de incomodar e, se possível, abalar as estruturas do poder lendo poemas que chutavam as canelas do status-quo.

Chegamos a ensaiar duas vezes, mas como tanta coisa na minha vida – e certamente na dele também – acabou não dando em nada.

Alguns anos depois estivemos juntos novamente, e aí com mais 4 autores, em outra coletânea – esta sim, de qualidade -, chamada Poesia Numa Hora Destas?, lançada em 1994 pela Editora 7Letras, que à época ainda se chamava Sette Letras.

Depois disso, cada um tomou seu rumo, e nunca mais soube do Ricardo.

Tempos atrás, as redes sociais cumpriram uma de suas funções mais salutares: reaproximar amigos que se perderam no tempo, e eu e Ricardo de Almeida voltamos a manter contato.

E com a reaproximação, ganhei de presente este belíssimo CD, Prajna (disponível também no Spotify), cuja parceria o Ricardo de Almeida divide com sua companheira, Lucilaine Reis.

Letras, arranjos, instrumental e melodias: tudo é bom, tudo é envolvente e tocante nesse disco, uma mistura pra lá de acertada de MPB e Rock Progressivo.

Prajna, lançado em 2019, é uma prova de que por baixo do Brasil Lixo que todos os dias está nos jornais, há um país vivo e resistindo com qualidade no que faz.

Sobre desejar a morte de alguém

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Há um ano e quatro meses não viajo, para evitar os ambientes fechados de aeroportos e aviões e o risco de contaminação na roupa de banho e de cama de hotéis e pousadas.

É quase o mesmo tempo em que não vejo a cara de um bar e de um restaurante.

Em três oportunidades, no ano passado, quando o ritmo de contaminação apresentou leve desaceleração, entrei em um café vazio para um expresso rápido, e mesmo assim me sentindo culpado.

A não ser pessoas de meu círculo íntimo, ninguém vai a minha casa, não vou a casa de ninguém.

Amigos queridos e irmãos que moram longe, só por vídeo chamada, isso há um ano e meio.

Quando saio, é máscara, gel e distância de todos.

Minhas filhas estão perdendo momentos preciosos de sua juventude, alijadas dos amigos, das festas e da escola, acumulando cansaço físico, fadiga mental e saturação emocional com as massacrantes aulas on-line (e há quem defenda ensino à distância para crianças e adolescentes).

Enquanto isso bares e restaurantes – os mesmos dos quais me privo de ir – estão a cada fim de semana mais cheios de gente sem máscara e conversando de perto, com música ao vivo e risadas, numa completa, espantosa e absurda negação da realidade.

Agem a partir do exemplo e com o respaldo de quem deveria primar pelo zelo e pela prevenção, mas que é incapaz de cumprir regras, por menores e mínimas que sejam; alguém que, enfeitiçado pela idolatria de idiotizados, escarnece da dor dos que se foram, dos que os perderam e dos que, heroicamente, lutam todos os dias nos hospitais para que a devastação não seja ainda maior.

Sigo com minha postura, tanto por medo quanto por responsabilidade, de me preservar e preservar os outros, esperando que chegue minha vez na fila da vacina, que oscila de ritmo a cada imbecilidade dita pelo supracitado.

Por formação e fé cristã, jamais desejei a morte de alguém, por pior que a pessoa fosse.

E desde março do ano passado continuo tentando não desejar.

Mas está tão difícil quanto chegar minha vez de ser vacinado.

50 anos, a melhor idade

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Quando eu tinha uns 40 anos, pressentia que alguma coisa iria mudar para melhor quando eu fizesse 50.

Claro, estar em uma baita emprego, com aquele salário que dá para dois meses, é o que me passava pela cabeça que aconteceria.

Há três anos emplaquei meio século entre os mortais, e meu pressentimento se cumpriu, embora meu saldo no banco continue na minha média histórica e eu não seja CEO de nenhuma multinacional (felizmente!).

Então, o que melhorou?

Acho que cheguei à fórmula de uma equação chamada “a medida certa das coisas”.

Não tenho mais a energia dos 25 anos, de quem passava madrugada na esbórnia e chegava às seis da manhã para dar plantão de fim de semana na redação.

Tenho é uma energia muito mais bem canalizada, e por isso, em certo sentido, mais forte, porque descobri a hora em que é para tirar o pé: na comida, na bebida, na atividade física, na atividade sexual, no trabalho.

No dia seguinte, estou lá, inteiro outra vez.

Outra coisa que, cinquentão, adquiri – com o estudo da filosofia – é que sou uma peça na cadeia criada por essa força misteriosa que uns chamam de Deus, ou que gira simplesmente ao acaso quando, em nossa pequenez, a gente não sabe explicar como funciona.

Pode parecer papo de ‘riponga setentista’ de Visconde de Mauá, mas depois dos 50 passei a me perceber irmão dos bichos, das árvores, das águas e até das estrelas, sou uma peça na cadeia igual a eles, querendo funcionar bem e cumprir a minha parte para que a roda gire ao menos razoavelmente.

Dosar as forças e me sentir parte do todo me trouxeram um pouco mais de paz e sentido em estar vivo, inclusive no terror da atualidade.

Uma grande idade os 50 anos (53 agora), capaz, inclusive, de fazer com que eu não os trocasse pelos meus 25, caso fosse possível.

Sorte sua

resilienciamag.com
resilienciamag.com

Você posta um monte de coisas, quase todos os dias, e a pessoa, quando se manifesta na sua página, é sempre para discordar, criticar ou te zoar.

Jamais uma curtida, uma carinha simpática.

Coraçãozinho então, esquece.

Tudo bem, nem sempre você é muito feliz no que posta, mas alguma coisa deve ter lá seu proveito.

Na verdade, essa é uma das situações em que a vida virtual se parece com a de carne e osso.

Não há sempre aquele parente ou colega de trabalho que só aparece para te detonar, mesmo que você pinte a Capela Sistina?

Agora a sorte do dia é: você poderia ser casada ou casado com essa pessoa.

E não é.

Cagaço

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É tão claro para mim que esse sujeito fugiu da CPI porque está com medo, que me pergunto como ele reagiria ao primeiro bombardeio que essa republiqueta de bananas em que vivemos sofresse se fizesse a burrada de entrar em guerra com algum país.

Se borraria todo na farda.

Me lembra a letra de Faroeste Caboclo: “General de 5 estrelas que fica atrás da mesa com o cu na mão”.

Pior que nem de 5 estrelas ele é.

Qual a necessidade?

Não ao Museu da Bíblia

Não sei se o resto do país sabe, mas em Brasília estão querendo construir um tal Museu da Bíblia.

É claro que é com dinheiro público: 26 milhõezinhos de reais do nosso bolso para regar o fanatismo desses obtusos neo pentecostais negacionistas e terraplanistas.

Nem vou entrar no papo do estado laico, porque há um lado ainda mais urgente para se discutir: é a miséria.

Com essa grana, certamente o governo de Brasília, cuja sigla é GDF, construiria casas dignas para as centenas de famílias miseráveis que estão morando nas ruas em plena capital do país.

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