Nota

emails

Tendo que fustigar velhos emails, descobri que até 2013 – apenas quatro anos atrás – ainda se mandava emails para os amigos dizendo que estávamos com saudades e que deveríamos nos ver.

O passado fica antigo cada vez mais rápido.

Lições do tênis

MDig
MDig

Fico sabendo, por intermédio de Maria Balé, que no tênis não se comemora o erro do adversário.

É algo para se levar pra vida pessoal e aplicar todos os dias.

Tanto por quem joga, quanto por quem não joga.

Das coisas do fundo do tempo

resposta

Escrevi esse poema quando tinha 19 anos.

Logo depois, Mauro Cesar o musicou em alguma daquelas tardes/noites intermináveis de Rio das Ostras dos anos 80.
Agora em dezembro ele me disse que a nossa música, feita na época do vinil e da fita K7, vai ser gravada e posta no spotify.

Três décadas depois.

Cantou pra mim baixinho, à capela mesmo, no bar ainda vazio, enquanto esperávamos que chegassem parte dos amigos daquela época.
Quando ele terminou, parecia que eu tinha acabado de escrever, e ele de fazer a música.

Era tanto frescor, que nem parecia que aquilo nascera num tempo que fica cada vez mais distante no calendário (e mais perto na saudade).

Perdão aos mais exigentes se esse poema não é literatura, mas apenas a emoção sincera e pura de um garoto de 19 anos apaixonado pela vida.

Três filmes

E como tomei um chá de cinema neste fim de semana, fiquei pensando nos filmes a que já assisti na vida e fiz uma rápida seleção dos melhores, na minha opinião. Espremi muito, e com muito esforço cheguei à conclusão de que esse três foram os que mais me emocionaram.

Forrest

cinema paradiso

O Filho da Noiva

Um livro

Paper boy capa

Um livro que você compra por R$ 10 naquela bienal de literatura, em que a literatura mesmo passou longe. Parecia feira de papelaria, de concurso público ou de livro religioso.

Um livro que você não sabia que era best seller, segundo o New York Times.

Que você não imaginava que houvesse virado filme com alguns atores que você gosta.

Muito menos que houvesse sido indicado à Palma de Ouro, em Cannes.

Um livro sem invencionices literárias, sem experimentos pretensamente geniais, sem personagens pretensamente densos, complexos e fascinantes, daqueles que te fazem se sentir imbecil, porque você acabou dormindo ao tentar entendê-los.

Um livro que não é de nenhum autor que está em alguma lista dos dez autores contemporâneos mais imprescindíveis do momento, daqueles que quando você lê, não entende porque o sujeito está na lista.

Um livro que você não entende como pode ser o único do autor traduzido para o português.

Um livro que você só larga porque precisa dirigir, ir trabalhar e tocar a vida.

Um livro que te faz querer que o dia acabe logo, pra você voltar pra casa e ler.

 

Fábula do parque

Floresta da Tijuca/RJ Foto Giustipress
Floresta da Tijuca/RJ
Foto Giustipress

– Que vida besta essa tua, hein, tartaruga? – o homem disse, e deu uma cuspidinha.

O bicho moveu a pequena cabeça fora do casco:

– Melhor que a tua, estressado pra pagar conta e criar filho.

– …

A piada melhor que a palavra de Deus

Púlpito Cristão
Púlpito Cristão

Na calçada entre o Conjunto Nacional e o Conic, dois dos centros comerciais mais importantes de Brasília, você vê o que quer e o que não quer.

Há lá um senhor de seus 70 anos, que não tem uma das pernas, mas tem um dos assovios mais afinados que já ouvi. Não é exagero dizer que parece uma flauta. Para acompanhá-lo, ele tocava um padeiro com uma pegada de percussionista.

Divertido, sempre tinha uma piada para quem passava. Coisa leve, nada impróprio, do tipo “a vida de casado é boa… mas a de solteiro é melhor”.

Quando eu ia pro almoço, me aproximava dizendo “a vida de casado é boa…” e ele completava “…mas a de solteiro é melhor”, para soltar em seguida uma risada ainda mais engraçada.

Na volta, eu deixava uma moedinha pra ele e soltava uma outra frase do seu próprio repertório: “vamu trabalhar, se não a mulher vai embora”. E ele repetia. E ria em seguida. E voltava a assobiar e a bater com ritmo seu pandeiro.

Sumi uns tempos da rota Conic-Conjunto Nacional.

Reapareci outro dia e dei com o sinhozinho de uma perna só, assovio de flauta e pandeiro de mestre. “A vida de casado é boa…”, brinquei, mas ele não completou. Até sorriu, mas, com um livro preto na mão, me devolveu a brincadeira com uma pergunta, estranhamente austero: “vamos ouvir a palavra de Deus, irmão?”

Desconcertado, segui meu caminho. Na volta do almoço, nada de assobio nem pandeiro, muito menos piada. Apenas “vamos ouvir a palavra de Deus, irmão?”.

Nada contra suas escolhas, seus novos caminhos.

É que tantas vezes passei por ali amargurado, triste, e as brincadeiras dele, sempre de bem com a vida, não obstante a perna que lhe falta e a esmola que pedia, me deixavam um pouco melhor.

Ele pode ter se encontrado espiritualmente, mas pra mim, tornou-se uma pessoa sem graça.

Eu precisava mais de suas piadas do que da palavra de Deus.

A necessidade de se assistir a O Vendedor de Sonhos

Só vim pra dançar Cast
Só vim pra dançar Cast

A crítica desceu o pau, mas acho que O Vendedor de Sonhos, do diretor Jayme Bom Jardim, é um filme necessário.

Como cinema, deixa realmente a desejar. Há buracos no roteiro e saltos na história, mas que acabam relevados por causa da mensagem.

Porque, lá pelo meio do filme, você enxerga que o que vale ali é a mensagem, e não o cinema.

Na história – realmente fantasiosa, como pregam os críticos – os personagens de Dan Stulbach e César Troncoso chamam a atenção para o que nos separa de quem amamos, para o que nos mata todos os dias, nos deixando hipocritamente vivos.

É um filme que denuncia o sistema de uma forma até óbvia, mas acho que precisa ser assim mesmo, porque o sistema está alimentando em nós mazelas, que embora nítidas, nós não estamos conseguindo detectar.

Aliás, desconfio que parte do desprezo da crítica (que está inserida na mídia, é sempre bom lembrar) vem justamente dessa cutucada forte que o filme dá no sistema capitalista.

Vá ao cinema assistir a O Vendedor de Sonhos. Releve o filme, preste atenção na mensagem.

 

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