Poesia como prece 10

Livro Frazão

Uma poesia que fala pouco sem deixar dúvidas.

Que fala muito quando é necessário, sem desperdiçar palavras.

Que é ácida, na medida da indignação, e doce, na conta certa de se apreciar a vida.

Parabéns, Marcelo Frazão!

Dica

Livro Adlei

Céu de Luz Marina é uma história bonita, escrita de maneira simples (como, inclusive, deveriam ser escritas todas as histórias).

Explorando temas que parecem até obrigatórios na literatura contemporânea, como violência contra a mulher e relacionamento homossexual, Ádlei Carvalho entretém o leitor do início ao fim, fazendo com que a gente tenha a sensação de que está escutado uma conversa importante entre duas pessoas.

No fundo, o livro do Ádlei é isso mesmo: uma conversa entre duas pessoas – avó e neta – , da qual a gente não desgruda até o final.

Um final que, aliás, é o mais lindo entre todos os livros que li nos últimos anos.

Poesia como prece 8

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A poesia de Damião Cordeiro mistura lirismo, erotismo, regionalismo, humor e crítica social em traço poético elegante, forte e, eu diria, requintado e até rebuscado.

Um belíssimo livro de poemas desse autor que, com estilo próprio, nos leva a passeio pelo sertão de Riobaldo e Diadorim.

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Só acho

Eu acho que esse ódio todo contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma tentativa desesperada de disfarçar uma irrefreável vontade de dar o rabo.

Só acho.

Dica

Livro W Gorj

Tenho três livro publicados pela Penalux: A Maturidade Angustiada, A Solidão do Livro Emprestado (2ª edição) e De Tanto Bater com o Osso, a Dor Vira Anestesia.

Sou bem satisfeito com o trabalho da equipe comandada pelo Tonho França e pelo Wilson Gorj, que recebem toneladas de originais e quando apostam em um livro, certamente é porque ele passou pelo crivo literário aguçado dos dois.

Então me senti honrado quando Wilson Gorj me enviou um exemplar de seu romance recente, A Inevitável Fraqueza da Carne, pedindo (vejam só!) minha opinião.

Em suma, um editor pedindo opinião de um autor; mas em tempos em que o Botafogo pode ser campeão brasileiro com uma razoável diferença de pontos, tá valendo.

Curioso, abri o livro e em pouco mais de uma semana dei cabo das 157 páginas do romance, que é uma história dentro de outra história, algo nem sempre fácil de fazer, mas que Wilson Gorj faz acertadamente, certamente se valendo não apenas do talento de escritor, mas também de sua bagagem de leitor e da sua tarimba (ô, palavra antiga) de editor.

Contando um drama familiar, com resvalos em crise conjugal e relação pai-e-filho conturbada, A Inevitável Fraqueza da Carne tem várias qualidades e, entre elas, a principal de um livro: segurar o leitor, fazer com que ele vá até o fim.

Não sou dono de editora e jamais serei (minha relação com elas será sempre a de bater na porta), mas se eu fosse, publicaria o livro do Wilson.

Poesia como Prece 7

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Georgino Neto e eu somos do mesmo universo.

Embora ele seja torcedor do Galo Mineiro e eu pertença à Nação Rubro-Negra – e isso nos coloque em polos opostos -, somos do mesmo espectro poético.

A poesia desse poeta de Montes Claros, que tive o prazer de conhecer exatamente um ano atrás, quando tive a alegria de ser homenageado pelo Psiu Poético, fala das coisas mais importantes da vida de um homem (e é nisso que me irmano a ele): as coisas simples, aquelas que as pessoas, no geral, não prestam atenção porque estão ocupadas com o que não importa.

A poesia de Georgino (ele escreve contos também) tem cheiro de café novo, tomado na varanda para se ver a tarde cair.

E tem mais: sabe aquela alegria eufórica, provocada pela primeira cerveja que se toma esperando sair o almoço de sábado? Pois é, a poesia do Georgino me dá essa tontura, essa alegria em estar vivo.

Aliás, é isso mesmo: a poesia de Georgino Neto é a de um cara que procura cumprir corretamente sua missão nesse planeta ameaçado, e com isso estar em paz enquanto estiver por aqui, enquanto alguma força superior em que se possa acreditar deixar que fiquemos.

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Sua poesia não tem a pretensão literária que aremessa tantos de nós, autores, no poço escuro da pedância.

Ele mesmo outro dia se confessou um poeta de feici búqui, “Sem gravidade literária ou virtuose linguística” , embora sua poética tenha lastro para estar em livros, blogs do métier e afins.

Se a ambição passa longe do poeta, ele segue enriquecendo a pobreza mediana da rede social.

Só acho

soninho

Cerveja artesanal é muito bom, você bebe e não pesa, acorda no dia seguinte sabendo quem é e o que fez na noite anterior.

Mas essa história de cerveja com gosto de maracujá, manga, laranja, pitanga, café… sei lá, me parece excesso de gourmetização, ou, em bom português, frescura mesmo.

E se não gostamos, nos olham nos sentenciando de antiquados, retrógrados, anacrônicos, obtusos, de mentes fechadas ao novo, fósseis de dinossauros perdidos em 1980.

O mundo de hoje às vezes me dá sono.

Dica

Capa livro LAF

Berro é o mais recente livro do multifacetado Leonardo Almeida Filho, que, além de escritor, é compositor, músico e artista plástico, e tem se tornado um grande companheiro na lida da literatura e nas discussões sobre a existência de um modo geral.

O livro ainda respira o ar da obra que o antecede, o romance Os Possessos, e embora sejam gêneros distintos, acho que o Leo foi ainda mais feliz em Berro, embora o romance tenha muito valor e valha a pena ser lido.

É que no caso desse livro mais recente, prossegue o esmiuçar das mazelas da sociedade brasileira e suas faces mais cruéis, trazidas à tona com mais intensidade de 2013 para cá e aguçadas a partir de 2018.

No entanto, em Berro, Leonardo Almeida Filho abre mão, acertadamente, de um tom panfletário que permeava seu romance, pertinente naquele caso, mas que seria excessivo em seu novo trabalho, o livro de contos.

Berro traz, em suas 145 páginas, algumas pérolas do conto contemporâneo, como O Capador, Inventário e a própria história que dá título à obra e encerra o livro. E isso para ficar em apenas três exemplos.

Não sou crítico, apenas um leitor que se intromete a dar dicas de leitura quando gosta do que lê; menos ainda entendo dos prêmios do mercado editorial, mas essa minha porção atrevida e palpiteira se arrisca a dizer que Berro tem todas as condições de disputar alguns canecos do mundo do livro.

Desperdício

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Essa foto é do restaurante Taioba, no Espaço do Servidor, no Senado Federal, em Brasília.

O que as pessoas que almoçam no local desperdiçam de comida talvez pudesse dar de comer a umas duas ou três famílias de gente que estica as mãos Brasil afora, pedindo, morta de fome, sem ter o que pôr no prato.

Se o que eu digo é achismo ou não, se meu cálculo não é exato, não sei se é o mais importante perante o flagrante de comida jogada fora em um país em que boa parte morre de fome (ou tem insegurança alimentar, para ser tecnicamente chique).

Qualquer realidade só começa a mudar a partir da nossa própria mudança (mas isso se quisermos realmente mudar alguma realidade)

(Em tempo: aquele prato ali na foto, vazio e sujo de feijão, era o meu).

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