O ufanismo gelado da Globo
Ufanismo é algo para mim irritante.
Quando com fins comerciais, então, tanto pior.
A não ser pelas piruetas dos patinadores no gelo, impensáveis para nós terráqueos, acompanho os Jogos Olímpicos de Inverno com tanto interesse quanto acompanho o movimento da bolsa de Taiwan.
Para promover a competição e dar lucro a seus patrocinadores, a TV Globo leva ao ar uma reportagem-exaltação (gênero bem desenvolvido pela emissora) sobre uma patinadora brasileira. Mas, peraí, lá pelas tantas o repórter, sempre com aquele texto obrigatoriamente “simpático, divertido e descolado” quando o assunto é esporte, informa que ela, na verdade, é americana e filha de uma brasileira com um americano.
Na entrevista, o sotaque tipo gringo pedindo informação em Copacabana confirma que a ligação da atleta com o Brasil não justifica que fiquemos assim tão comovidos pelo seu mau desempenho na prova, como a reportagem e seu texto “tocante e sentido” deseja que fiquemos.
Pra encerrar o boletim sobre os Jogos de Inverno, o mesmo repórter põe nas alturas uma dupla brasileira que disputou a prova no trenó. E quando já imaginamos que o desempenho da dupla derreteu o gelo na Rússia, o repórter informa que ela foi a última colocada.
Promover noticiosamente um evento é justo. Respeitar o atleta, independentemente do resultado, é o correto.
Mas que não se falseie a realidade, em respeito ao telespectador.