O ufanismo gelado da Globo

Ufanismo é algo para mim irritante.

Quando com fins comerciais, então, tanto pior.

A não ser pelas piruetas dos patinadores no gelo, impensáveis para nós terráqueos, acompanho os Jogos Olímpicos de Inverno com tanto interesse quanto acompanho o movimento da bolsa de Taiwan.

Para promover a competição e dar lucro a seus patrocinadores, a TV Globo leva ao ar uma reportagem-exaltação (gênero bem desenvolvido pela emissora) sobre uma patinadora brasileira. Mas, peraí, lá pelas tantas o repórter, sempre com aquele texto obrigatoriamente “simpático, divertido e descolado” quando o assunto é esporte, informa que ela, na verdade, é americana e filha de uma brasileira com um americano.

Na entrevista, o sotaque tipo gringo pedindo informação em Copacabana confirma que a ligação da atleta com o Brasil não justifica que fiquemos assim tão comovidos pelo seu mau desempenho na prova, como a reportagem e seu texto “tocante e sentido” deseja que fiquemos.

Pra encerrar o boletim sobre os Jogos de Inverno, o mesmo repórter põe nas alturas uma dupla brasileira que disputou a prova no trenó. E quando já imaginamos que o desempenho da dupla derreteu o gelo na Rússia, o repórter informa que ela foi a última colocada.

Promover noticiosamente um evento é justo. Respeitar o atleta, independentemente do resultado, é o correto.

Mas que não se falseie a realidade, em respeito ao telespectador.

Tip of the Iceberg

Livros da Minha Vida 5 – Para Gostar de Ler

Para gostar de ler

Certamente essa coleção ajudou a formar, nos bancos de escola, uma geração de leitores entre os anos 70 e 80.

Pelo que me lembro, foram seis ou sete volumes. Os primeiros reuniram crônicas de Drummond, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. E até onde minha vida de estudante permitiu acompanhar, lembro-me também das capas com Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa e Mário Quintana.

Foi uma estratégia editorial bem inteligente da Ática, selo tão vivo na memória estudantil de 30, 40 anos atrás. Com sua linguagem coloquial e seus temas do quotidiano, a crônica é uma excelente porta de entrada para a leitura. No meu caso, em particular, o gênero foi além, tornando-se um dos plantadores da sementinha do jornalismo.

E digo mais: por meio da crônica – e das crônicas publicadas na série Para Gostar de Ler – descobri três dos escritores que mais marcaram minha vida, tanto de leitor quanto de autor.

Mas isso é assunto pra depois.

Para Gostar de ler 2

Simples assim

Uma enquete no portal da Câmara dos Deputados pergunta se somos a favor ou contra o conceito de família como núcleo formado a partir da união entre homem e mulher.

Sou a favor  do conceito de família como núcleo formado a partir do amor.

Serve?

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITOS-HUMANOS/461790-CAMARA-PROMOVE-ENQUETE-SOBRE-CONCEITO-DE-FAMILIA.html

Dez anos sem cigarro

pulmoes

Há exatamente dez anos eu parei de fumar.

O momento chegou a ser solene. Eram 16h30 de uma sexta-feira nublada, 13 de fevereiro de 2004. Acendi o cigarro e disse para mim mesmo em voz baixa, mas firme e decidida: “Este é o último!”.

E foi. Nunca mais fumei.

Intensificar atividades físicas, mastigar cravo e beber água todas as vezes que vinha a vontade foram um dos artifícios que utilizei para largar o fumo. O mais forte deles, no entanto, era a certeza de que cada cigarro reduzia meu tempo de vida ao lado da minha filha mais velha, à época filha única.

Nem nos primeiros dias de abstinência abri mão daquilo que chama o cigarro: vinho, cerveja, café. Imaginei que se me afastasse também, mesmo que temporariamente, desses prazeres – saudáveis em quantidade moderada–, a vontade de fumar poderia ressurgir incontrolável quando eu voltasse a virar uma taça, um copo, uma xícara. Minha nova vida, como ex-tabagista, não poderia me privar de certos sabores. Que, inclusive, ficariam mais apurados sem o cigarro.

E aproveitando que falei em prazer e sabores, talvez um caminho para combater o fumo seja o de assumir que o cigarro realmente dá prazer. Quem acha o contrário nunca foi tabagista. Só que essa consciência deve vir acompanhada da certeza de que o prazer da vida sem cigarro é infinitas vezes maior.

A ganância no cálculo inflacionário

Vejo na TV que os preços das bebidas subiram mais de 10% neste verão de estupidez, rios baixos e muita reza contra e a favor de um apagão.

Representante de uma das inúmeras associações do comércio ou indústria diz que o galope dos preços tem dois motivos: a demanda, pois derretendo como estão as pessoas bebem mais, e a velha e batida carga tributária, vilã sempre surrada nos discursos sobre a cadeia produtiva nacional.

Só se esqueceu de mencionar um item que compõe qualquer cálculo inflacionário: a ganância de (muitos) empresários e comerciantes, cujo apetite pelo lucro sempre se disfarça com máscara cínica de bom empreendedor comprometido com o bem do país, vítima “frágil” da fúria arrecadadora do Estado.

ganância

A vitória nossa de cada filho

Testemunhar uma conquista de um filho nos traz igualmente a sensação da vitória. Quando dobram alguma dificuldade, ultrapassam obstáculos, obtêm êxito em desafios, é um pouco (aliás, um muito) de nós que também sai vencedor. Nossa dedicação não deixa de estar ali consagrada.

Pela minha lembrança, o primeiro desses tantos momentos é quando a criança aprende a andar, quando solta de nossas mãos e vai pela casa, pela calçada, confiante já em suas próprias pernas.

O segundo certamente é quando aprendem a andar de bicicleta.

Por esses dias, pela terceira vez em minha vida de pai levantei esse troféu imaginário: após alguns dias de tombos e choro, minha filha mais nova saiu pedalando pelo jardim, enchendo de gritos de alegria (meus, dela e das irmãs) a noite de verão. O equilíbrio inseguro foi se firmando a cada vai e volta emocionado da novidade, conquistada também com um pouco do meu esforço em transmitir-lhe amor e confiança.

Vendo-a se distanciar no longo corredor embaixo do prédio e dominar o mistério de se mover sobre duas rodas, sobreveio-me a orgulhosa impressão de que estou colaborando para que, quando realmente estiver longe de mim, saiba se equilibrar também na vida.

criança bicicleta

 

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