Sobre Ana Paula Arósio

ANA PAULA ARÓSIO

Por Cris Moreno

Acho engraçado como as pessoas lastimam que a Ana Paula Arósio esteja sem atuar, ou ‘fora da mídia, sem fazer sucesso na Globo’.

Dizem que ela tá depressiva, doente da cabeça, porque acham inconcebível que ela prefira uma vidinha comum no mato que a de estrela nacional no Projac.

É fácil pensar assim hoje, quando se faz de tudo para aparecer, como se ser reconhecido na rua (nem que seja de forma negativa) fosse a realização plena de qualquer ser.

Não foi à toa que selfie foi eleita a palavra de 2013. Vamos todos aparecer e ‘parecer’, porque, afinal, a necessidade de ‘se mostrar bem’ é maior que ‘estar bem’. É o reino da vaidade e da hipocrisia! (Eu hein?!)

Uma pessoa que trabalha com a imagem desde menina não pode se cansar de ser chamada de linda? Será que isso era tudo o que ela queria na vida?

E depois ainda teve que sobreviver à tragédia que lhe aconteceu. Só muita análise pra trazer amadurecimento e equilíbrio! Mas rola o contrário, acham que ela não está ‘normal’, inclusive a mãe já deu declarações desse tipo. Ou não deu, mas saiu na imprensa.

Se hoje a Ana está casada com o homem que ama, vivendo no campo na companhia de cavalos e cachorros, que ela adora, que coisa maravilhosa! Não parece que foi tudo o que pediu a Deus?

Ou acham que sucesso na vida teve Marilyn Monroe, que no auge da fama resolveu morrer por se sentir só, mal amada e vazia? Ou seja, excesso de glamour pode fazer mal pra saúde.

Eu disse que acho gozado, mas no fundo é triste: tem gente que se esquece (ou ignora) que há várias formas de ser feliz e que cada um sabe o que é que lhe faz assim.

Vamos deixar a Ana Paula, a vizinha, o amigo, a tia, o compadre e quem quer que seja ser feliz do modo que achar possível! E viva o Ano Novo! 

Da perfeição da natureza ou sobre o cocô da anta

Revisando o texto de um relatório de impacto ambiental, fico sabendo que a anta não é encontrada apenas em repartições públicas, gabinetes de governo ou mesmo exercendo cargos executivos na iniciativa privada.

A tapirus terrestres, nome que provavelmente jamais escreverei algum outro dia na vida, é encontrada na Venezuela, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Guiana Francesa, Suriname, Paraguai, Argentina e, claro – não é novidade -, Brasil.

É o maior mamífero terrestre neotropical, embora eu não saiba nem tenha muita curiosidade para saber o que o termo significa. Come frutos caídos, folhas, caules tenros, brotos, pequenos ramos, plantas aquáticas, cascas de árvores e plantas aquáticas.

anta

Mas o que me levou a escrever sobre a anta é algo para mim impensável até então. Suas fezes contêm sementes, ou seja, enquanto faz cocô, a anta espalha sementes de plantas e árvores pela natureza e, nas palavras do relatório, “desempenha papel importante nos ecossistemas em que vive, promovendo a regeneração e a manutenção de florestas”.

O que poderia soar como piada, quem sabe até um certo deboche, é, na verdade, a prova da perfeição dessa engrenagem chamada natureza.

800px-Chupa_dente_de_capuz

PS: Acho fascinantes os nomes populares dos pássaros da fauna brasileira. Entre os mais de 1300 que encontrei nesse relatório, um resume a ópera: Chupa-dente-de-capuz. Haja criatividade dos caboclos que os batizaram em nossas matas.

Luzes de Kussama

As luzes que aparecem na foto e no vídeo não são enfeites de natal.

São da mente, da alma.

sala de espelhos

Trata-se de ponto alto da exposição da artista plástica Yayoi Kussama, em cartaz no CCBB do Rio até o próximo dia 20. Tomara que a mostra viaje. Os moradores de outras cidades onde há CCBB, como Brasília, merecem vê-la.

Essa é uma sala de espelhos em que luzes se acendem e se apagam, alternando cores e, consequentemente, emoções de quem as assiste.

Kussama viveu boa parte da vida em um hospício. Pelo que li, quando recebeu alta, resolveu permanecer por lá, quem sabe por costume.

É viva até hoje, produzindo trabalhos que parecem mesmo relatos sobre os abismos da alma. Passam beleza, encanto, medo, angústia, estranhamento. Enfim, é alma humana mesmo, sem dúvida, inclusive porque não há como querer encontrar um sentido estrito, claro e lógico nos trabalhos de Kussama.

Aliás, há algum tempo compreendi que arte não é para se compreender, obras não são para o entendimento.

São para despertar sentimento e emoção.

Veja o vídeo http://www.youtube.com/watch?v=yG4RQQODdLg

Périplos no país da musiquinha

Neste fim de ano, tive problemas com o carro na estrada.

À noite. Chovendo. Com três crianças pequenas.

A experiência não é ruim apenas pela situação em si, mas também porque nos leva a precisar das seguradoras, as mesmas que, a exemplo de bancos e telefônicas, exibem o paraíso na propaganda e nos entregam o inferno na prestação do serviço.

Até não tenho muito que reclamar do socorro mecânico. O guincho veio relativamente rápido, ainda mais se levando em consideração a hora e a localidade. Mas a promessa foi de que junto viria um táxi para que eu pudesse seguir viagem com – repito – três crianças pequenas, vulnerabilidade deixada bem clara por mim várias vezes às atendentes do BB Seguro Auto.

Foram mais de dez ligações para saber se o táxi prometido naquela quase véspera de natal viria ao menos antes do carnaval. Em uma delas, fiquei 12 minutos na linha escutando uma daquelas musiquinhas que acabam com os nervos. Por duas vezes, após minutos de espera – e musiquinha, é claro – a ligação caiu, me obrigando a ouvir novamente a voz pretensamente simpática e amistosa da gravação sobre o menu de serviços.

Por sorte minha, havia caridade no socorrista, que, esperando a situação se resolver, ficou comigo no local, um posto de gasolina fechado na escuridão da BR 040, em Minas. Experiente no serviço, sugeriu: “Eles não têm táxi hoje para mandar e não querem dizer pro senhor. Eu lhe deixo num hotel aqui perto e o senhor marca um táxi para amanhã”.

Assim fiz, e só assim consegui ter um fim de noite – início de madrugada – razoavelmente bom, ainda mais depois da adversidade.  É claro que, no hotel, antes de conseguir o táxi pro dia seguinte, ainda ouvi uns 40 minutos de musiquinha em umas três ou quatro ligações.

 

telefone

O mesmo desfecho, no entanto, não alcancei ao tentar levar o carro para consertar em uma concessionária (a Roma, da Fiat, na Tijuca, Rio), já no dia seguinte. Mais de meia hora de tele espera, música enervante e ligação interrompida para, ao final, acabar levando o carro no mecânico da esquina, que, aliás, resolveu o problema em pouco menos de uma hora.

Não cheguei a procurar qualquer pesquisa ou dado que embase a conclusão a que cheguei. Mas pela experiência vivida na carne, o que se percebe é que realmente o poder aquisitivo das pessoas aumentou nos últimos dez anos, a julgar, inclusive, pela quantidade de carros na estrada.

É ótimo, e principalmente justo, que mais pessoas estejam ganhando mais, com mais acesso ao conforto. Mas o mesmo país que ainda padece com a falta de infraestrutura é o mesmo que não percebeu, e, por isso, como de costume, não planejou a necessidade de se melhorar a prestação de serviços.

Essas pessoas, e era de se esperar, iriam naturalmente precisar de seguros para automóveis, de assistência técnica, iriam precisar de estradas melhores e mais seguras (embora no caso da recém privatizada 040, ela esteja, pelo menos em relação ao asfalto, bem melhor do que estava no começo dos anos dois mil).

Mas o que se percebe, quando se chega a praticamente implorar por certo tipo de serviço, não é apenas falta de estrutura de diversos setores, mas também falta de preparo profissional, reflexo natural da deficiência de nosso ensino, inclusive na educação de base.

Enquanto isso não se resolve, haja nervos pra aguentar tanta musiquinha na orelha quente por causa do telefone.

A Grande Beleza

Primeiro dia do ano, e já um grande filme.

Numa Brasília em que nem padaria abre dia 1 de janeiro, o cinema é a salvação de quem está ressaqueado menos de comida e bebida do que de  ter esperança em novos tempos no ano que começa.

A Grande Beleza é daqueles filmes que nos faz pensar no vazio da vida que a gente leva sem se dar conta, e quando se dá, continua do mesmo jeito, achando que um dia vai dar uma topada na quina da mesa e tudo vai mudar por encanto.

O filme é de Paolo Sorrentino, conduzido por uma bela interpretação de Toni Servillo.

É italiano, falado em italiano e se passa em Roma. Não precisaria ter muito mais para ser belo.

Mas tem.

Confira a boa resenha que achei em O Estado de São Paulo.

http://blogs.estadao.com.br/luiz-zanin/a-grande-beleza/

Servillo interpreta o escritor Jep Gambardella. Foto Europa Filme.
Servillo interpreta o escritor Jep Gambardella. Foto Europa Filme.

 

 

É isso

Não tenho nenhuma certeza se esta frase é mesmo do Papa. A veracidade de informações e de autorias continua sendo um ponto fraco da internet. Mas independentemente de quem disse ou escreveu, acho que, neste momento em que por força da calendário renovamos nossas esperanças, o caminho é mesmo por aí.

“Não chores pelo que perdeste, luta pelo que tens. Não chores pelo que está morto, luta por aquilo que nasceu em ti. Não chores por quem te abandonou, luta por quem está contigo. Não chores por quem te odeia, luta por quem te quer. Não chores pelo teu passado, luta pelo teu presente. Não chores pelo teu sofrimento, luta pela tua felicidade. Com as coisas que vão nos acontecendo vamos aprendendo que nada é impossível de solucionar, apenas siga adiante.”


Jorge Mario Bergoglio, Papa Francisco.

esperança

Então, senhor…

pizzaria

 

 

O estabelecimento de ar requintado que aparece na foto é uma pizzaria. O nome, certamente, é por causa do senso comum estabelecido de que São Paulo faz a melhor pizza do país.

Fica num recém-criado centro de lazer que reúne bares e restaurantes junto à Ponte JK, uma das três que cruzam o Lago Paranoá, em Brasília.

Em frente a ela há um parquinho para as crianças, que como praticamente todo espaço público do gênero no Brasil não possui banheiro. O Estado brasileiro nem sempre considera a hipótese de as pessoas sentirem vontade de fazer xixi, ou outros, em praças, parques e afins.

Assim sendo, fui bater na porta da tal pizzaria com minha filha menor, de seis anos, apertada para fazer xixi.

“Posso levá-la ao banheiro?”, perguntei, educado e simpático, algo que nem sempre consigo, reconheço.

A moça da portaria deu um sorriso, mas daqueles forçados, aprendidos em manuais de administração, recursos humanos ou qualquer outra profissão que treine gente para tentar ser simpática e educada com o público.

Ela ensaiou uma resposta: “Então, senhor…”, mas eu a cortei, captando imediatamente qual seria a resposta. É que seria desnecessário ouvir o resto da frase com a explicação, pois para mim não há nada que explique o impedimento de um sujeito levar a filha de seis anos a um banheiro de uma pizzaria.

A partir disso, é de se acreditar que o procedimento com idosos, grávidas, deficientes físicos não seja diferente.

Não sabia da existência dessa pizzaria, e para mim será como se ela continuasse sem existir.

No dia que bater a vontade de comer pizza – meu prato predileto –, mesmo aquelas de caixa, embebidas em sódio, que vendem no supermercado, certamente ainda serão uma opção à frente da pizza da Avenida Paulista.

 

 

 

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