Leveza poética a serviço da contundência

Livro Marino

O novo livro de Alexandre Marino trafega em sua quase totalidade pela conjunção da pandemia com o governo Bolsonaro, ou seja, o próprio inferno.

Com sua requintada técnica, um de meus poetas contemporâneos favoritos consegue usar sua leveza poética para falar do terror que foram os últimos quatro anos, sem, no entanto, deixar de lado a acidez e a contundência com que merece ser tratado o período.

Recomendo.

Daqui pra frente

soninho

Eu sei que não fará diferença alguma na vida nacional, mas vou deixar de lado essa história de escrever sobre política em meu blog e redes sociais.

Assim como fiz desde 1989, votei com convicção no Lula na eleição passada, antes de tudo para que o país não acabasse de vez, como sinalizava a possibilidade de reeleição do senhor das trevas.

Paro por aqui não por causa de ataques da horda fascista que nos fez viver nos últimos quatro anos a pior fase da história do Brasil recente, até porque esse tipo de gente é bloqueada em minha conta.

Mas vou tirar o pé, por que a intolerância de um certo eleitor de esquerda (mal-educado, grosseiro, que pede democracia, mas não sabe lidar com ela quando é contrariado) a qualquer tipo de crítica não é recomendável a quem, a caminho dos 5.5, quer ter o espírito cada vez mais leve e não remoer, sem postar, por que afinal não seria educado e democrático, um “vai pra puta que o pariu, seu babaca escroto!”.

Pra encerrar, saibam que não me arrependo em nada de meu voto e que, sim, o país está melhor, no mínimo pelo fato de haver preocupação em construir casa para pobre e levar médico nos cafundó para atender pobre, mas daqui pra frente, só literatura, Rock’n Roll, Blues & afins.

Nos falamos.

Só acho

Emoji

Penso que um jornalista que considera pacote de bondade o aumento do dinheiro para merenda escolar nunca viu de perto uma criança que vai basicamente à escola para comer, porque não tem comida em casa.

Acho que nunca entrou numa favela, numa delegacia, na emergência de um hospital público de madrugada.

Formou-se e foi direto cobrir Congresso, Palácio do Planalto.

Só acho.

O poeta que chupa laranjas

Livro Alexandre Brandão

Neném prancha, folclórico técnico de futebol de praia, dizia que Didi, um dos monstros que no passado vestiram uma outrora respeitada e temida camisa amarela, jogava bola como quem chupava laranja.

Queria dizer que Didi fazia a coisa certa, com beleza e maestria, se livrava dos adversários de modo simples, sem inventar e, consequentemente, sem se complicar.

Estou há algum tempo aqui para dizer que o Alexandre Brandão faz do mesmo jeito: escreve, muitas vezes sobre assuntos cabeludos, mas de maneira simples, sem perder, em momento algum, a elegância e a beleza.

Acho que ele escreve poesia como quem chupa laranja.

Literatura só presta se “cortar o coração” (ou lembrete a nós, modernos)

Éramos seis

Nos dias de hoje, certamente Maria José Dupré teria que escrever de modo diferente seu maior sucesso e um dos maiores sucessos da literatura brasileira.

Consigo imaginar críticos taxando de excessos e pieguices vários trechos de Éramos Seis, e também autores que ministram oficinas de escrita criativa mandando que ela reescrevesse tudo.

Lendo com os olhos da literatura de hoje esse clássico, que este ano completa 80 anos da primeira edição, minha inclinação é dar razão aos meus colegas contemporâneos, mas há um elemento crucial em Éramos Seis que faz com que a obra sobreviva a todas essas décadas e que, certamente, a manterá viva por outras que virão.

O livro mais famoso dessa autora, cuja literatura infanto-juvenil marcou a iniciação de muitos leitores, “corta o coração”, como talvez dissesse a própria Dona Lola, narradora e personagem principal da história de uma família de classe média baixa de São Paulo.

E se não “cortar o coração”, literatura não presta, não serve para nada, mesmo que utilize as mais modernas, ousadas e inovadoras técnicas de escrita.

Puxado demais

OIP

A TV Globo anuncia que o sonegador de imposto vai jogar contra a Coréia.

A notícia é ovacionada pelos comentaristas e locutor, como se o sujeito fosse um grande herói que lutasse por uma causa de justiça e paz.

O dinheiro que ele deve aos cofres públicos é uma verdadeira fortuna.

Quanta escola e hospital e pesquisa científica e vacina poderiam ser erguidas, financiadas e compradas com o valor devido.

Para encerrar, é bom lembrar que o rapazinho declarou voto no sujeito que riu e debochou de gente morrendo sem ar.

Fiquem à vontade para torcer por essa seleção.

Para mim é puxado.

Um país que se autoexplica

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A foto é de uma loja do Pier 21, shopping center à beira do Lago Paranoá, em Brasília.

Exatamente aí funcionava até um ano atrás a Livraria Leitura.

Comprei muitos livros aí, inclusive para minhas filhas, e também CDs, no tempo em que se compravam CDs.

Agora, em vez de livros, o que se vende são aqueles enfeites de Natal cafonas, bonecas e bonecos vestidos de lã ou casinhas com telhados cheios de neve, remetendo a uma comemoração que nada tem a ver com a nossa, de país tropical no início do verão.

Menos mal que o nome da loja é em português, não completaram a cafonice chamando de Christmas Dream.

Em todo o caso, um lugar que era livraria virar loja de enfeite de Natal explica direitinho o país em que a gente vive e, em especial, o Brasil de 2016 para cá.

Melhor prevenir do que remediar

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Esse fascistinha estuda no Centro Educacional Leonardo da Vinci, na Asa Norte, área nobre de Brasília, portanto, escola de gente de classe média, branca, que come bem e mora bem.

Estou pondo aqui o nome da escola, porque a matéria do Metrópoles não diz, ao contrário do que provavelmente aconteceria se o caso houvesse acontecido em uma escola pública na periferia da capital do país.

Esse pequeno nazista é reincidente, pelo que me disseram e pelo que a própria matéria informa.
Se houvesse sido expulso na primeira vez em que fez apologia à barbárie, não teria feito de novo e nem incentivado outros meliantes a fazerem o mesmo.

Exatamente o que deveria ter acontecido quando um certo deputado enalteceu publicamente um torturador que colocava ratos na vagina das presas políticas.

Se tivesse sido processado, condenado e preso, não teria virado presidente da república.

Útil e ideológico

Urna

Na eleição de 2018, comecei a campanha indeciso entre Ciro e Haddad, até que optei pelo Haddad.

Mas eis que, na véspera do 1° turno, saiu Data Folha dizendo que o Ciro era quem tinha mais condição de vencer o senhor das trevas no 2° turno, embora estivesse, como agora, em 3° nas pesquisas.

Nem pestanejei: cravei Ciro com convicção, ou melhor, com convicção útil.

Haddad foi pro 2° turno e meu voto, que era útil, voltou a ser ideológico.

Quatro anos depois, meu voto será novamente ideológico e novamente útil.

Ideológico para que o país se reencontre com a paz, com a democracia, com a tentativa de se fazer justiça social, com a preservação do meio-ambiente, com o respeito e a credibilidade internacionais.

E útil para que a eleição acabe no próximo domingo.

Meu medo mora no STF

Charge da imprensa Austríaca
Charge da imprensa Austríaca

Meu maior medo da reeleição do (des)governo que aí está mora no STF.

O Supremo não é perfeito, afinal é formado por seres humanos, mas, mal ou bem, tem posto freios nos desvarios golpistas do Executivo.

Não à toa é o principal alvo do ódio do fascista e dos fascistas que o veneram.

Se reeleito, Bolsonaro indicará, já no ano que vem, dois novos ministros para a Suprema Corte.

Se você acompanha noticiário em vez de se informar pelo grupo de zap, sabe que os dois ministros até agora indicados por ele não contrariam em nada suas vontades na hora de decidir seus votos.

O STF possui 11 ministros. Com mais dois, já será próximo da metade o número de indicados por ele, sem falar que ele tem a prerrogativa de também indicar ministros do STJ e de outros tribunais superiores.

Sentiu o perigo que corremos com sua reeleição?

Aliás, apenas mais um dos perigos.

Pense nisso no primeiro turno.

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