Flamengo: a esperança dos números da história

Os números e a história do Flamengo provam: dos seis títulos nacionais que o clube levantou, três foram com técnicos que saíram das vísceras rubro-negras. 1987 e 1992 com Carlinhos e 2009 com Andrade, isso sem falar no primeiro brasileirão, 1980, erguido sob a batuta de Cláudio Coutinho, e o segundo, 1982, com o comando de Paulo César Carpegiani. Quando das conquistas, os dois já estavam há anos na Gávea, sendo que o segundo saiu do próprio elenco para dar as ordens fora das quatro linhas.

Com exceção de Carlos Alberto Torres no tri brasileiro de 1983 (fazendo-se a ressalva de que pegou o time pronto), nunca tiramos grandes campeonatos com esses malas de Luxemburgos, Manos e Muricis da vida. Não é só craque que o Flamengo faz em casa. Técnico também.

E eis que agora, se não ainda os números, mas a história já começa a se repetir.

Jayme de Almeida, zagueiro mediano nos anos 70, leva a uma decisão nacional um time que até um mês atrás só poderia almejar como o máximo do sucesso a fuga do rebaixamento.

Se essa diretoria pretende realmente mudar a história desastrosa das diretorias do Flamengo nas últimas décadas, deveria manter Jayme de Almeida e o atual elenco.

O Flamengo não ganhou nada ainda, até porque o Atlético Paranaense merece respeito, mas só essa esperança de que o ano que vem pode nos oferecer a chance de uma temporada vitoriosa já valeu este 2013 que se anunciava trágico.
Bandeira do Flamengo

Livros da minha vida 1 – O Coelho Sabido

O coelho sabido

Eu nem alfabetizado era ainda, portanto é de se esperar que esta seja mesmo a minha mais embrionária memória livresca. Tanto é que quando lembro do pouco que guardei da história, o que me vêm é a voz de meu pai lendo para mim. Talvez até por isso o livro seja a marca inicial da minha navegação por esse fantástico mar que é a leitura.

Para falar a verdade, nem sei ao certo se a foto que aparece aí é realmente da capa da mesma obra. Ao longo da vida, perdi o exemplar que eu tinha, e na busca pelo Google o que me apareceu foi esse, com essa capa, que, com certeza, não é a mesma dos meus cinco ou seis anos.

Da história, a única coisa que restou em meus desgastados arquivos de homem quarentão é que as orelhas do tal coelho eram pequeninas, e que por causa disso o “fofucho” tinha lá seus complexos. Só que o bichinho era tão gente boa, tão camarada, que Deus, lá pelas últimas páginas, pegou com carinho em seus cotoquinhos de orelha e os esticou, dando um final feliz à narrativa.

O resto da lembrança é o amor com que, todos os dias e a meus pedidos, meu pai me contava a história.

Livros da minha vida

Começo hoje, aqui no blog, a série Livros da minha vida. Meses atrás, cheguei a rascunhá-la no feici búqui apenas com a foto das capas dos livros, e mesmo assim não fui adiante.

Agora, além da foto, pretendo escrever algumas linhas sobre os livros que marcaram minha vida.

Bem mais que uma breve resenha, os posts dirão sobre a lembrança que tenho do que li de mais importante para mim e que mais marcou minha infância, adolescência, juventude e, agora, maturidade.

Logo mais postarei a primeira “resenha lembrança”.

Aguardem!

Livros

A comodidade de viver sem tesão

sem tesão

O que nos cansa, nos pesa os ombros e oprime o peito é essa insistência incorrigível em ser felizes no trabalho, no namoro, no casamento.

Então, veja só que bestas somos: ainda achamos que se deve fazer vestibular para aquele curso, cuja carreira nos trará realização íntima, pessoal.

Abramos mão do sonho, da ideologia e nos aquietemos; amuados, mas quietos, sem desgastes, como todos os demais que vivem à sombra morna de uma vida sem saltos, mas também sem sobressaltos.

Trabalhemos tão somente pelo o que deve ser o bastante: pagar as contas, manter os filhos no colégio e não dever demais ao cartão de crédito.

Almejemos um diploma que nada nos traga além da capacitação a um excelente cargo público num concurso disputado, pois o valioso nessa vida são o salário e a estabilidade.

Assim será mais fácil que fiquemos juntos, mantendo as aparências debaixo do mesmo teto, com uma ou outra eventual escapulida ou até uma desconhecida vida dupla, acreditando que o normal, o correto é mesmo a tão propalada teoria do “com o tempo a paixão acaba, o amor se transforma e vira companheirismo”, e que, adeptos dela, não somos nem seremos solitários.

Amigo, amiga, não sejamos tolos com essa teimosia de felicidade: é tão mais fácil ser como a maioria e aceitar que não é necessário fazer as coisas com tesão.

Sobre Ferraris, Shelbys, ônibus e metrô

Possuo uma característica típica do brasileiro mediano, aguçada, quem sabe, pela ascendência italiana: sou apaixonado por automóvel, não nego.

Acelerar numa estrada, domar suas curvas é, certamente, um dos maiores prazeres que tenho. Dirigir numa rodovia me economiza o dinheiro de umas três sessões de terapia.

De uns tempos para cá, no entanto, passei a conceber o automóvel como um objeto de arte, um vinho francês de pequena produção ou um chocolate artesanal, que precisam ser poupados da pressa diária das refeições, pois devem estar reservados para inesquecíveis noites de sábado e vagarosas tardes de almoço de domingo.

Portanto, do mesmo modo que me dá tédio essa massa uniforme de vinhos sul americanos e bombons de caixa de papelão – embora sejam o que está à altura do meu salário -, me enfadam também essas casquinhas de ovo de 1000cc ou a ausência de graça e charme desses modelos asiáticos, todos basicamente com os mesmos desenhos e aparência.

O que me comove são os carros esportivos; se forem antigos, então, mais comovido ficarei. Ser dono de uma Ferrari GTO 1962 ou de um Ford Shelby Cobra (fotos) da mesma época certamente povoam o terreno de meus sonhos mais ardentes. E também mais improváveis de serem realizados.

Mas meu sonho de locomoção vai um pouco – nem tanto – mais além, embora esta última parte, apesar de pequena, pareça ser ainda mais difícil de ser concretizada: viver num país e numa cidade em que eu possa, de segunda a sexta, deixar o carro – ou obra de arte – na garagem e ir trabalhar e voltar para casa de ônibus ou metrô decentes.
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Resenha

Jéssica Macêdo me tocou muito com sua resenha sobre meu livro Histórias de Pai, Memórias de Filho.

Está no blog que ela mantém com amor de mãe, o Me sinto grávida.

Reproduzo aqui a resenha, que está disponível no link abaixo.

Confira. http://www.mesintogravida.com.br/2013/10/resenha-livro-historias-de-pais-memorias-de-filho/

“Histórias de pai, memórias de filho é um daqueles livros para ler e reler por toda a vida. Do jornalista André Giusti, o livro infanto-juvenil traz relatos de alguém que é pai, mas antes de tudo é filho, nos levando a interessantes reflexões sobre os nossos laços familiares. A publicação é curta, e em menos de uma hora você viaja por estórias que você também poderia ter vivido de alguma forma.

Se você for dessas pessoas que, assim como eu, tem um quê de saudosismo sempre à flor da pele, pode até chorar. A narrativa te faz viajar no tempo, entender como as escolhas feitas lá atrás podem influenciar na sua conduta como pai ou mãe. Histórias de pai, memórias de filho ainda desvenda a ligação entre pais e filhos, deixando à vista pequenas sutilezas nas relaçōes parentais que tornam os elos mais fortes ou mais fracos.

– Pai, Deus é doido mesmo, viu?

Pego de surpresa, o pai parou de mastigar e ficou olhando a pequena, decidida em seu conceito. Ainda calado, metade da folha de alface para da boca, ele pedia: explique-se, minha filha!

Não se fez de rogada, e para defender o que pensava, exibiu os dentes alinhados em um sorriso pronto. No lugar dos dois de cima, apenas o vão da gengiva vazia, por onde começava a se despedir sua primeira infância.

Desfez o riso, trocou-o por uma cara solene. Era o que estava de acordo com opinião tão polêmica.

– Ora, pra que tirar nossos dentes e colocar outros no lugar? Por que não faz a gente logo com os dentes que vão ficar pra sempre?
O pai, que de dentes só entendia de trincá-los com as aflições da vida, baixou os olhos até o prato. Sumiu na boca e no silêncio a outra metade da alface. Vencera-o a lógica daquela fervilhante cabeça de de seis anos. (Giusti, 2013 p.19)

 

O livro é exatamente aquilo que ele colocou na dedicatória, na noite de autógrafos: “Para Jéssica, minhas histórias de pai e filho. Para seu coração de mãe e filha!”. Exatamente isso, me sinto tocada tanto na figura de mãe, mas principalmente como na de filha. Obrigada, André, por partilhar conosco as nuances da vida.”

Sobre envelhecimento e água com gás

Uma das frases antológicas da literatura mundial está em O amor nos tempos do cólera. Florentino ou Juvenal – agora não sei exatamente qual dos dois – olha no espelho o quanto está envelhecendo. Gabriel Garcia Marquez, então, em um de seus vários momentos de genialidade, diz que “um homem percebe que está envelhecendo quando começa a ficar parecido com seu pai”.

Na infância, eu achava que água com gás era coisa de velho. Tudo porque era a bebida preferida de meu pai. Ele não tomava refrigerante. Bebida alcólica, só uma taça de vinho no natal. Mas sentando em um restaurante, mandava descer logo uma Lindóia ou uma São Lourenço, as marcas mais famosas nos anos 70 no Rio de Janeiro.
gasosa

Meu pai tinha seus 50 anos nessa época, e eu, da pequenez dos meus 6 ou 7 anos, o achava velho. É bom lembrar também que, há 40 anos, meio século de vida pesava mais no corpo e na alma do que atualmente, quando uma série de fatores e condutas tornam alguém nessa idade o equivalente a alguém de 35 ou 40 de décadas atrás.

Hoje, me barbeando, vi que a fisionomia de meu pai está surgindo, pouco a pouco, em meu rosto, talvez num vinco da pele abaixo das maçãs da face, quem sabe num modo furtivo de olhar para o lado.

E não é só isso: há alguns anos que adoro água com gás.

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