O grande mérito de Um Homem Chamado Jesus é não ser um livro religioso, ainda mais se levarmos em conta que foi escrito por um padre.
O que interessa a Frei Betto não é catequese, é o Jesus histórico, o que viveu entre e pelos pobres e os marginalizados, tornando-se o maior vulto, se não da humanidade, mas ao menos da história ocidental.
O Jesus de Frei Betto, que, creio com minha fé cristã, é o autêntico, morreu pelo motivo simples de se opor à hipocrisia da falsa moralidade, em que leis, rituais, dinheiro e poder estavam acima da vida humana.
Não teria fim diferente na atualidade em certo país do hemisfério sul, onde milhões que se dizem seus seguidores copiam a hipocrisia que imperava em Jerusalém 21 séculos atrás.
Outro detalhe interessante do Jesus descrito por Frei Betto é a figura extremamente humana de alguém a que se atribui divindade.
Nas páginas de Frei Betto, Jesus se alegra, se chateia, sente tédio, chega a se irritar, gosta de festa e é um bom garfo (come bastante carne, inclusive).
A diferença é sua moderação, seu equilíbrio, sua sabedoria, sua coerência entre o que dizia e o que fazia e, acima de tudo, seus extremos amor e misericórdia para com o próximo.
Era isso que o levava à divindade, a mesma que ele dizia que poderíamos alcançar, mas que, por ora, dela nos mantemos (bem) distantes.
Com um texto elegante, objetivo, claro e bem escrito, Frei Betto acaba evangelizando, mas com literatura de qualidade.
Apenas dois pontos me decepcionaram.
O primeiro é a manutenção da versão bíblica de que Jesus não nasceu de uma concepção normal, como nascem as pessoas de carne e osso, como ele era.
E o segundo é o papel totalmente secundário de Maria Madalena, que praticamente não aparece na obra (menos mal que na história ela não é uma prostituta arrependida).
Mas tudo bem. Frei Betto, em que pese toda sua visão progressista e humanitária, é um padre.
A divindade é do personagem principal de seu livro.