Recentemente os senadores optaram por acabar com os dois salários extras que recebiam. Claro, não foi por iniciativa própria. Tiveram que ser fustigados durante bom tempo pelo jornal Correio Braziliense, o principal da capital do país.
Antes, o veículo havia conseguido objetivo igual em outra instância do legislativo: a Câmara Legislativa do Distrito Federal, casa de horrores e ineficiência maiores que seus primos – Câmara e Senado – na esfera federal. É de se concluir, portanto, que os deputados distritais também não quiseram poupar dinheiro público por boa vontade. A decisão brotou a partir do chicote diário da imprensa.
Agora seis deputados federais resolveram abrir mão da regalia do 14º e do 15º, impensável deleite para o bolso do trabalhador comum, que se não ficar de olho perde o 13º e outros direitos. Como são 513 deputados, haja chicote jornalístico para se conseguir um pouco mais de decência também por lá.
O universo das benesses legislativas não passa somente pelo salário, e também não fica restrito à esfera dos parlamentos. Ministros e desembargadores, por exemplo, usam e abusam dos carros oficiais, sempre dos modelos mais caros, pois os mais simples, aqueles que o brasileiro médio compra em dezenas de prestações, não os servem nunca.
É impossível não comparar o mundo paralelo e desconectado da autoridade brasileira com os países onde prefeito vai trabalhar de metrô e deputados dividem um minúsculo apartamento por que não recebem auxílio-moradia. E têm a consciência de que não fazem nada demais.
No Brasil, quem exerce poder, seja político ou administrativo, precisa aprender que só terá credibilidade se abrir mão dos privilégios que a cultura do próprio poder achou, no curso da história, o direito de possuir.
O exercício do poder sem privilégios praticamente iguala quem o exerce a quem é representado.
E isso não apenas moraliza, mas deixa ainda mais legitimo o próprio poder.
Obrigado, José. Um abraço!
Adorei esse artigo, André.