Crianças de hoje, a má educação como regra

Todas as vezes que em pequeno ia a casa de parentes ou amigos da família, era obrigado a cumprimentar um por um quando chegasse, em especial os donos da casa. Caso contrário, experimentava a aplicação dos métodos ortodoxos de educação, dos quais, diga-se de passagem, não guardo qualquer trauma.

Cresci, virei pai e reproduzo em meu modo de educar boa parte da educação que recebi na infância, como por exemplo o ritual dos cumprimentos. Por isso, já fui e ainda sou olhado de soslaio e com estranheza por muita gente.

Muitos vão além das expressões de estranhamento e me criticam com frases feitas do tipo “ah, é criança, deixa ela, não tem importância”, marcas características do discurso que adota como princípio a leniência, a permissividade, a condescendência irrestrita para com os pequenos.

Confesso que por mais encantadora que seja a criança, para mim perde toda a graça – e me causa mesmo antipatia – se ela chega a minha casa e, sem sequer me olhar na cara, some corredor adentro até parar no território reservado dos quartos, onde, não raro, sua curiosidade a leva aos armários e gavetas. “Ah, ela é tímida”, já ouvi várias vezes como justificativa, um remendo cínico para o áspero cobertor da má educação, da falta de modos. A desculpa geralmente escapa da boca de quem, sem querer repetir o modelo repressivo dos pais, nunca acertou a mão no limite aos filhos.

Acho que está claro, mas não custa confirmar: não falo da educação chamada de etiqueta, esse instrumento fútil tão usado para se praticar a falsidade e a hipocrisia. Falo de educação como respeito às pessoas em geral, todas em pé de igualdade, independentemente daqueles conhecidos fatores que provocam a imbecilidade da discriminação.

Entrar na casa dos outros sem cumprimentar – e também em outras situações não pedir licença ou desculpa – não terá, num primeiro momento, consequência maior do que o certificado público de que os pais estão falhando em algum ponto. Mas como a educação é amiga íntima da gentileza, é de se esperar que no futuro será cada vez mais raro quem, por exemplo, ceda o lugar no metrô a um idoso ou a vez na fila a uma mulher grávida.

6 comentários em “Crianças de hoje, a má educação como regra”

  1. É isso aí, “precisamos deixar filhos melhores para o nosso planeta”.

  2. Denise Giusti

    As coisas já estão indo nesse pé, aqui Rio como frequentadora assídua dos ônibus e metrô, muitas vezes sou eu com meus 54 anos que levanto e cedo lugar aos idosos enquanto os jovens já cansados pela manhã com seus fones nos ouvidos finjem dormir…. Agradeço à Deus de ter tido uma ótima educação dos meus pais. ótimo texto André, como falou o Lucas deveria constar em outros blogs , em outros meios de comunicação esse alerta!

  3. Caro André…o que escreveu é nítido dentro de mim como valor…berço…Não se tem essas coisas de maneira fácil…até hoje, com 55 anos, lá em casa, chegando sempre com a benção de nossa mãe, era assim com nosso pai que já desencarnou e com os tios também….Não dá para explicar para um cidadão urbanóide..da capital…o que é isso…porque as vezes, eles mesmos acham antiquado…muito arcáico o respeito que se tem nas cidades do interior…e vejo pouco aqui em BH…deve ser o mesmo em Brasília, inventada no papel há tão poucos anos…Você falou tudo..é tão bom ver que uma criança já tem o estilo :afeto pronto…afeto disponível… Você disse tudo nessa crônica, alías, deveria divulgar noutros sites…
    ABraços bom dia…do amigo Lucas

  4. Rodrigo Santos

    Meu pai e minha mãe me obrigavam a cumprimentar todos os adultos quanndo visitavamos alguém, Hoje, de uma forma menos incisiva, mas com a mesma importância faço omesmo com os meus filhotes.

  5. Muita gente não vai gostar do que leu… Eu tenho me preocupado muito com o futuro. Como será essa geração que tem tudo e nunca ouve um não? Será que elas vão dar conta das frustrações da vida? Será que teremos jovens cedendo lugar para idosos no ônibus?

  6. hehehe, tem que lembrar aos pais que “esse bostinha de hoje será o bostão de amanhã”!
    só com muito papel higiênico mesmo…

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