Da série Livros que deveria ter lido há mais tempo.

Terminei de ler por esses dias O anjo pornográfico – a vida de Nelson Rodrigues, do Ruy Castro. O livro é de 1992 e me pergunto por que abdiquei todos esses anos da leitura sobre a vida de nosso maior dramaturgo. Se me fosse dado o dever de formar uma lista do tipo livros que deveria ter lido há mais tempo, O anjo pornográfico puxaria a fila.

É daqueles livros que nos faz perder a hora de dormir, e que durante o dia torcemos para que chegue logo a noite, o momento  de irmos para a cama e, com a cabeça no travesseiro, devorarmos suas páginas.

Confesso que Nelson Rodrigues não era figura que me despertasse o maior dos interesses. Até que, recentemente, procurando algo que preenchesse o tédio de uma viagem de avião, deparei em uma livraria de aeroporto com o tijolaço do Ruy Castro.

A exemplo de outras biografias, dá para pescar um pouco da história do país a partir da vida do biografado e a história do segmento que representou – no caso de Nelson a imprensa e o teatro – e a relação desse segmento com a sociedade da época.

É característica lógica das biografias ensinarem um pouco de história a partir da vida de uma pessoa. Fernando Moraes dá aula de história da imprensa contando a vida de Assis Chateubriand em Chatô – o rei do Brasil. Ruy pincela um pouco dessa história ao escrever sobre a vida de Nelson, e vai bem além quando fala do teatro, o que ocupa uns 40 por cento do livro. E essa fatia da obra é quase toda preenchida com o que realmente importa nas peças de Nelson Rodrigues: a relação delas com a sociedade da época, desnudada no palco pelos seus personagens, escandalizada com suas próprias mazelas morais, renegadas com pose de santa.

Mas o que toca em O anjo pornográfico é a ligação de Nelson Rodrigues com a tragédia. A morte não era presença à toa em suas peças e crônicas. Poucas vezes li sobre um autor que houvesse tido contato tão próximo com ela, pontuando não apenas a vida da família com abusiva frequência (dói ler como morreu o irmão mais novo de Nelson), mas a dele próprio por causa da saúde sempre precária.

No todo, apenas um porém. O livro que fala sobre a vida de alguém que tanto versou sobre o pecado, comete um. A relação de Nelson Rodrigues com o futebol é muito pouco explorada. Simplesmente não há menção à frase “estava escrito há 5 mil anos” , épica na crônica esportiva brasileira.

Mas isso não desmerece a abordagem sobre a vida de Nelson Rodrigues, ainda mais com o texto do Ruy Castro. Se não leu, leia. Não espere viajar de avião.

3 comentários em “Da série Livros que deveria ter lido há mais tempo.”

  1. Meu caro André,
    Você sabe que Nelson Rodrigues nunca esteve em minhas preferências, mas li “A Sombra das Chuteiras Imortais” que tem a coletanea de suas cronicas sobre futebol e é muito bom.
    Concordo com você que após ler sua biografia , eu fiquei mais interessado na sua obra também.

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