Das redes sociais como libertação dos autores

fa peigi

Já disse que as redes sociais representaram de alguma maneira a libertação de escritores.

Vinte, trinta anos atrás se o autor quisesse que seus escritos fossem lidos e não se perdessem no anonimato das gavetas, tinha dois caminhos: a paciência e boa vontade dos amigos (como importunei os meus!) ou a árdua batalha da publicação, dividida em duas frentes.

A primeira, a dos suplementos literários, nos quais a concorrência era grande – como ainda é – e em tantos casos requeriam conhecimento estreito e proximidade pessoal com quem os editava; e fanzines, que por aquele tempo começavam a surgir, principalmente nos meios universitários, como alternativa aos canais de publicação considerados mais formais.

A segunda frente para a publicação era a mais ortodoxa: o livro. Reuniam-se os textos, eivava-se de coragem e danava-se a bater à porta das editoras, donde vinha sempre a indiferença, ou no máximo um polido não: “apesar da qualidade, não é possível aproveitar seu trabalho no momento”.

Recorria-se, então, ao patrocínio do pai ou da mãe e ao empréstimo de amigos para que o livro viesse ao mundo em forma de edição independente a ser vendida, depois de publicada, em bares ou qualquer evento que tivesse cara de alternativo ou marginal. Poucos recuperavam o investimento e quitavam suas dívidas, e este certamente nunca foi o meu caso.

O que ganhei com essas edições? Muito divertimento, chope de graça em algumas situações e muitos tapinhas nas costas e palavras de incentivo.

Hoje, a exemplo das notícias, a literatura tem meio que uma pegada real time. Escreve-se agora, publica-se em cinco minutos na rede social, no blog.

Entre todas as desvantagens que isso possa vir a ter – e as que vejo são pequenas – há uma vantagem enorme em relação a quando comecei a escrever. Hoje em dia são bem maiores as possibilidades de sermos lidos. A literatura, principalmente no gênero da poesia, é material corriqueiro em nossas telas e smarts.

Embora eu seja péssimo com eles, acho que posso usar os números para tentar provar o que estou dizendo.

Nas últimas duas semanas, paguei R$ 50 ao feici búqui e publiquei dois poemas que, juntos, alcançaram 1.235 curtidas e 80 compartilhamentos, que na verdade são republicações gratuitas. Pelos números que recebi, mais de 30 mil pessoas viram as duas postagens.

Descontada a desconfiança que se deve ter em relação a esse montante de visualizações, é certo que ele não foi de meia dúzia de pessoas.

Com esse scout poético, reafirmei a pergunta que faço a mim mesmo há tempos: quando que, publicando meus poemas, contos e crônicas apenas em livros ou outro veículo impresso, eu teria mais de 1.200 leitores em poucos dias?

Espectro impensável, ainda mais para a poesia, gênero dos dois textos, limitado a um universo bem restrito de leitores.

O livro é sagrado e sempre será objeto de desejo meu como autor, mas como em outros campos da vida moderna, não se pode menosprezar, ou ficar cego para o potencial das redes sociais na literatura.

É claro que entre o que se publica há muita coisa de valor discutível.

Como sempre houve, há e haverá nos livros.

No cinema, no teatro, na música.

E na vida.
*
Acesse no FB André Giusti Escritor
https://web.facebook.com/andre.giusti.5/?ref=hl

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima