De onde o Brasil nunca saiu

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“O Brasil está andando para trás”, tenho ouvido nos últimos dias, depois que o juiz de Brasília desenterrou a imbecilidade da cura gay e o obtuso Movimento Brasil Livre conseguiu que fechassem a exposição lá em Porto Alegre.

A impressão clara é a de que há realmente um retrocesso, mas tenho uma quase convicção de que o pensamento dominante do brasileiro médio é – e sempre foi – na direção de achar, por exemplo, que homossexualismo é doença.

Esse mesmo brasileiro médio, uma massa uniforme ignorante da história do país e consumidor de informação tendenciosa e parcial, não acha apenas que ser gay é doença.

Ele também acha os negros inferiores e vê a mulher como dois tipos de objeto: de prazer e de uso doméstico para tarefas que ele culturalmente acha que não deve desempenhar.

Tivemos 12 anos em que os detentores do pensamento chamado progressista ocuparam o poder e conseguiram implantar no país uma agenda com mais direitos iguais e oportunidades para que nunca as teve.

A reverberação dessa conquista foi grande, levando a crer que o país estava mudando. Alguma coisa, realmente, se conseguiu. Pouco, perto da dívida social. Muito, para os que, até com orgulho, empunham preconceitos.

O país não andou para trás, porque simplesmente durante todo esse tempo maior que uma década o pensamento tacanho/mediano/majoritário esteve sempre lá, nunca mudou, apenas se manteve relativamente silenciado, porque não estava conseguindo fazer mais barulho que o sucesso do que lhe era, e sempre foi, oposto.

O problema é que quem administrava a agenda de conquistas e igualdades sucumbiu à podridão do poder – inclusive ao jogo espúrio para nele se manter -, e o brasileiro mediano, tendo a certeza de que foi roubado, voltou a gritar. Só que com muito mais ódio e ainda mais preconceituoso.

Por isso não acho que o Brasil esteja andando para trás.

De maneira geral, foi um país que nunca saiu de lá.

Lá de trás.
*
PS: Inaceitáveis e preocupantes a passividade e a falta de atitude do ministro da Justiça e do Comandante do Exército diante das declarações de um general do alto comando da Força aventando a possibilidade de intervenção militar no país. Tratar a coisa como bravata, como fez o comandante, é uma forma de apoiar veladamente a declaração. O que ainda me dá um pouco de esperança de que o caldo não entorne de vez é que, pelo que se sabe, se eles não estão conseguindo direito nem colocar comida nos quartéis, que dirá dar um golpe e tomar o poder.

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