Dia do jornalista (com o perdão pelo atraso).

Ontem foi dia do jornalista. Eu sei que nessa profissão é pecado mortal falarmos de algum assunto depois de todo mundo. Mas estou escrevendo sobre isso só hoje porque não me abalam em nada essas datas. O próprio dia das mães pouco me comove. Inventado pelos comerciantes, sua própria origem explica tudo: faturar, com o apelo do amor materno. É claro que ninguém saiu dando presentes para os jornalistas, mas mesmo que não tenha o caráter comercial, acho irrelevante um dia para uma categoria profissional. Em todo o caso, obrigado pelos e-mails enviados.

Não vou usar aqui o chavão dos repórteres de TV quando fazem a cobertura de dia dos médicos, professores, etc: “No dia de tal categoria, não há muito o que comemorar.”, se bem que no caso dos jornalistas não há mesmo. Em lugar disso, atenho-me a uma frase postada no tuíter.  Ela é de G.K. Chesterton, que só por ocasião da data descobri ter sido escritor inglês nascido no século 19. A frase diz que “não foi o mundo que piorou, as coberturas jornalísticas é que melhoraram muito”.

Serve para aqueles momentos em que abrimos os jornais, ligamos o rádio ou a TV e não vemos qualquer motivo para nutrir alguma esperança no planeta, na humanidade. Convenhamos, desde que a Igreja foi fundada padres abusam de coroinhas, e hoje no Brasil não se deve roubar tão mais assim do que no Império ou na Colônia. A diferença é que atualmente nós ficamos sabendo. E se somos mais bem informados, certamente o crédito é muito mais da tecnologia do que da qualificação profissional.

Instantaneamente, soube-se pelo tuíter que o Ahmadinejad fraudou as eleições no Irã (e nesse caso a tecnologia deu um drible também na censura). Nos terremotos, nas enchentes do Rio, as imagens feitas pelos celulares encheram o tempo dos telejornais.

A regra da informação hoje é a rapidez, a amplitude do espaço, a riqueza da imagem. Quanto à profundidade… bem, sinceramente, às vezes parece que o pensamento é “vamos ouvir um especialista aí qualquer e saímos achando que aprofundamos o assunto”.

*

 

Nesse dia do jornalista li várias mensagens defendendo o diploma. Também defendo, mas até hoje não vi ninguém discutir a melhoria urgente dos cursos de comunicação. Alguém me explica por que os alunos não têm aulas de direito constitucional? De português aplicado ao texto jornalístico?

Estúdios e equipamentos ultramodernos não ajudam a pensar. Essa tarefa é dos livros e dos professores.

Diploma tem que existir, mas segurando ele deve estar um profissional bem formado, com o mínimo de consciência da sociedade e de organização dessa sociedade.

2 comentários em “Dia do jornalista (com o perdão pelo atraso).”

  1. Daiane Garcez

    Um comentário (com o perdão do atraso também, rsrs)
    Muito bem lembrado este aspecto fundamental: não é o diploma que define a competência do profissional.
    Isso só é possível com uma formação constante.
    Com relação a não tanto o que comemorar, acredito que a permanência nesta profissão só tem uma explicação: o prazer de informar !

    Lembro-me da década de 90 – parece que foi ontem. Minha experiência é de rádio e tv. Convidada para fazer desempenhar uma função “burocrática” em um dos Ministérios, fui animada a mudar um pouco de trabalho, sair um pouco do estresse de correr atrás da notícia, onde quer que ela estivesse. Com menos de 6 meses, senti um vazio, faltava algo, que eu não sabia dizer o que era. Uma espécie de angústia que durou dias.

    De repente, um colega de uma emissora de tv me ligou e disse: Tenho uma vaga para produtor e quero você comigo. Na verdade, a vaga era de TP – Tapa Buraco, aquele que tem que produzir, redigir, gravar e se brincar entrar ao vivo no jornal com as últimas informações.

    Não sei o que me deu, mas aceitei sem pensar. No outro dia, coloquei meu cargo, no Ministério, à disposição.

    Descobri com esta experiência que o jornalismo na minha vida é como uma cachaça, mata aos poucos, mas você não larga de forma alguma.
    Parabéns para nós !

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima