Duas coisas sobre Mandela

1.

Por esses dias assisti a um trecho de uma entrevista que Nelson Piquet concedeu à Marília Gabriela poucos dias após a morte de Ayrton Senna.

A jornalista perguntou por que Piquet não foi ao enterro do companheiro de profissão.

Com a língua ferina que o fez tão famoso quanto seu talento num cock pit, Piquet respondeu que não eram amigos, não se davam, tiveram problemas e ele não iria ao funeral apenas para proveito da própria imagem. Citou Alain Prost, lembrando que o francês espezinhou e falou mal de Ayrton a vida toda, e estava lá segurando a alça do caixão em pose consternada para as câmeras.

Hoje pela manhã, assistindo à cobertura sobre a morte de Nelson Mandela, ouvi se manifestarem, consternados feito Prost, chefes de governo e também jornalistas que no curso da história, pelo que me consta, não apenas jamais disseram um ai contra o apartheid, mas também, tradicionalmente, se eximem de se levantar contra as injustiças sociais, seja na forma racial, de gênero ou econômica. No caso de jornalistas, bombardeiam, inclusive, inciativas que vão no sentido de reduzir a disparidade entre as oportunidades oferecidas a brancos e negros no Brasil. A política de quotas é só um exemplo.

Às vezes um pouquinho de Piquet em cada um de nós caberia bem.

2.

Amiga minha reclama no feicibúqui da santificação que a imprensa, no geral, sempre faz quando uma personalidade do quilate de Mandela retorna à verdadeira vida.

Diz, com razão, que ninguém é bom o tempo todo.

Defeitos são inerentes ao ser humano, por mais que brilhe a luz do sol no coração da criatura.

Mas a diferença de algumas pessoas para outras não é somente o fato das virtudes serem maiores e existirem em número bem superior aos defeitos.

A diferença é que os defeitos dessas pessoas não atrapalham a vida de ninguém.

Mandela

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