Espantos para Uso Diário, livro de contos do escritor paranaense Mário Baggio, publicado ano passado pela Editora Coralina, bem poderia se chamar Absurdos para Uso Diário.
Estaria bem batizado.
É que os espantos de Baggio parecem absurdos, deliciosos absurdos a debochar do mundo atual, do pais atual.
Mas não é deboche sem propósito.
É de denúncia em boa parte dos casos.
Baggio cria fatos delirantes e desse modo, bastante original, trata, por exemplo, da violência doméstica, falando do homem ciumento que arranca os olhos, as pernas e os braços da mulher para que ninguém a tome dele.
Acaba perdendo-a para um circo que a quer como atração bizarra.
Em outro momento, a esposa exemplar coloca os filhos no forno (ligado) para ter em sossego um jantar romântico com o marido.
Mas, calma.
Em tempo de tanta aflição e angústia, o livro de Baggio traz também – e em boa quantidade – lirismo e doçura, como em dois belíssimos contos: Elizete e a Vitrola e Solidão para Uso Diário, uma variação do título da coletânea.
Portanto, para fazer passar mais rápido a quarentena, recomendo a obra de Mário Baggio com seus espantos e seus absurdos.
O único problema pode ser, quando depararmos com o noticiário, chegarmos à conclusão de que as histórias de Baggio nem são tão absurdas assim.