Essa seleção do Dunga é um mistério.

Todos os 23 convocados da Seleção da Inglaterra jogam no futebol inglês, nenhum em outro país. Esse é o reflexo de um futebol rico financeiramente, cujos clubes conseguem segurar seus melhores jogadores.

Dessa forma, a grande diferença entre Brasil e Inglaterra no que diz respeito à relação da torcida com o time, é que os ingleses conhecem os jogadores que estão defendendo as cores da bandeira deles na África do Sul. Conhecem porque eles estão lá, em campo, a cada rodada do campeonato inglês, bem junto aos torcedores, diariamente nas seções de esporte dos jornais.

Era assim no Brasil até os anos 80. Vestidos com a amarelinha, estavam jogadores do meu time e dos times rivais aos quais eu assistia aos domingos no Maracanã. Portanto, eu sabia o que esperar de um time formado por Zico, Júnior, Leandro e meus tradicionais adversários Roberto Dinamite, Rivelino, Reinado, Cerezzo, Sócrates, etc.

Nem de longe isso ocorre isso com a estrangeira seleção do Dunga, essa desconhecida pela qual nosso patriotismo quadrienal se vê obrigado a torcer na Copa da África. Não é desconhecida apenas porque muitos treinos são secretos, ou porque nesse ordeiro esquema de coletiva os dois jogadores que são escalados pouco dizem de aproveitável. É desconhecida porque o elenco praticamente todo joga nos mais diversos cantos do planeta, e quem não acompanha os campeonatos europeus não sabe exatamente de quem se trata aqueles rapazinhos suando a camisa mais temida do futebol mundial. Fora Kaká, Júlio César, Lúcio e Robinho, você se arriscaria a escrever duas linhas sobre o Daniel Alves, o Ramirez ou o Josué? É tarefa inglória até para quem acompanha o futebol com proximidade razoável.

O desconhecimento rouba parte da identificação da torcida com o time, consequentemente esfria o ímpeto dessa mesma torcida na hora dos jogos. Parece um pouco a história do sujeito que de repente fica sabendo que tem um irmão, é apresentado a esse irmão e alguém diz que ele precisa amar o outro como fazemos com os irmãos. Mas para mim ele não é meu irmão! Argumentaria o sujeito. Pois é, essa também não é a minha seleção, mesmo que esteja com a camisa do meu país.

Por tanto desconhecimento e mistério, é difícil dizer o que podemos esperar dessa seleção do Dunga. Das seleções de outras épocas, podíamos esperar espetáculo ou catástrofe. Algumas vezes a expectativa se confirmou. Em outras, o resultado foi o oposto do que se previa. No caso dessa seleção, ela pode ser desclassificada na primeira fase por causa do talento, que nem mesmo o mistério consegue ocultar a ausência. Ou até ser campeã, a se concretizar a impressão que temos de que é um grupo quase que militarmente treinado, pactuado internamente a trazer o caneco pela sexta vez para esses mares do sul.

Hoje o enigma começa a ser revelado, o que já aconteceu com Alemanha, Argentina e até mesmo Holanda.

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