Estado sovina. Ou perdulário.

Tony Winston/GDF
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A Camerata José Maurício é uma orquestra formada por jovens e adolescentes que moram em São Sebastião, cidade do Distrito Federal, há cerca de 20 Km de Brasília. Não chega a ser das cidades mais pobres que rodeiam a capital federal, mas tem carências de infraestrutura, de escola, de saúde. Quando o assunto é arte e cultura, então, o vácuo aumenta. Se o público for os jovens, o que se oferece é o mais do mesmo que se encontra nas periferias brasileiras: ou nada ou bailes embalados pelo pastiche da indústria cultural.

Os integrantes da orquestra são jovens considerados pelas autoridades como aqueles de risco social. Porque, na ótica oficial, são pobres, sujeitos às tentações que a criminalidade pode oferecer. Portanto, a camerata é a chance de não virarem estatística (e é ainda um bem a nossos ouvidos, porque possuem qualidade musical).

Por trás da orquestra, há uma escola que ensina música clássica a cerca de 100 meninos e meninas, a partir dos nove anos. O maestro Kassai conta que uma das batalhas no momento é conseguir uma sede própria nesse Distrito Federal de tanta terra pública vazia e sujeita à especulação e à grilagem.

Mas a maior briga, segundo o maestro, é conseguir R$ 100 mil de uma emenda parlamentar na Câmara Legislativa para que no ano que vem a escola possa pagar professores e comprar instrumentos. É dinheiro que significa a sobrevivência da escola no ano que vem, ano da Copa, que já sugou mares de dinheiro público em estádios de custo benefício social discutível. É dinheiro que significa manter aberta uma chance na vida para centenas de jovens que, normalmente, desconhecem justamente essa expressão: chance na vida.

No mesmo DF, administradores públicos foram afastados por gastarem, numa única noite, R$ 600 mil com cachês em shows gratuitos que certamente nada acrescentaram culturalmente à população, mas apenas a pretensões eleitorais deles próprios.

Se o Estado fosse uma pessoa física, R$ 100 mil para ele seriam como R$ 10 na carteira, esmola para o almoço de um faminto ou a passagem de ônibus de quem não tem como voltar pra casa. Mas o Estado é um sujeito que prefere gastar R$ 500 num jantar para amigos.

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