Estranha moral

 

Tirou os olhos do jornal e os levou a qualquer ponto insondável da sala. Pensava no que acabara de ler, a notícia sobre uma professora americana de 31 anos. Loura, belíssima, na chamada flor da idade, estava sentada no banco dos réus prestes a ser condenada por um tribunal. Seu crime: fizera amor com um frangote 15 anos mais novo.

Pelo que compreendeu, a moral escandalizada da família do garoto o obrigou a denunciar sua iniciadora, aquela devassa devoradora de um inocente na carne, muito embora e certamente essa mesma carne fosse envólucro de alma tragada por toda a sorte de impurezas da adolescência.

Ainda com o jornal abaixado, seus os olhos tornaram-se somente janelas onde se debruçava a lembrança de uma tarde ensolarada de quase meio século nos fundos do casarão antigo onde moravam os padrinhos. Riu, sestroso. Então, deveria ter ido à Polícia dar queixa de Joana, prima mais nova da madrinha, igualmente quinze anos mais velha do que ele e também por isso mais adiantada nos assuntos inerentes à vida. Deveria é tê-la levado à barra do tribunal, em vez de ter saído do quarto de hóspedes feliz como nunca havia sido, guardando-a eternamente na parte mais doce da memória.

1 comentário em “Estranha moral”

  1. Realmente a história da professora parece estar eivada de um moralismo exacerbado, tipicamente americano, diga-se de passagem. A minha dúvida, no entanto, é se a objeção ao puritanismo seria mantida se fosse um professor ensinando as artes de alcova para uma menina 15 anos mais nova. Como seria a crônica. Confesso, em tempo, uma certa inveja do frangote que teve tão bela professora.

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