Eu, minhas filhas e o direito das mulheres*

Homem branco, de classe média, criado sob os ditames machistas, nunca me preocupei com os direitos das mulheres.

Até ser pai de três meninas.

Não me agrada pagar a educação delas e saber que no futuro elas poderão ganhar menos do que os colegas homens por causa de uma estupidez cultural que é quase uma cláusula trabalhista.

A tal meritocracia, defendida por quem é contra as cotas raciais nas universidades, deveria ser instrumento para igualar os sexos no mercado de trabalho. Pena que os homens que a defendem no primeiro caso se omitem no segundo.

Mas minha preocupação de pai com a questão dos direitos das mulheres não fica, claro, restrito ao campo do trabalho. Porque temo que uma delas seja vítima de violência de marido ou namorado, preparo-as para entender que a dignidade é a mãe do direito.

Desde já cultivo naquelas cabecinhas que não aceitem, de forma alguma, gritos e xingamentos de algum homem, seja ele quem for, tenham por ele amor, paixão ou qualquer outra espécie de atração ou sentimento. A mulher que admite isso abre a porta para a violência física, e será, possivelmente, presa fácil do cínico arrependimento do homem.

A dignidade da mulher no casamento, namoro, noivado e afins certamente é um de seus principais direitos, e talvez passe pelo conceito que ela terá dessa relação. Procuro ser claro com minhas filhas: a felicidade de vocês não dependerá de marido ou espécies semelhantes. A mulher que tem essa consciência fica menos vulnerável à agressão física e psicológica, e não aceitará como normal toda sorte de humilhação.

Essa coisa de se preocupar com direito das mulheres me faz prepará-las para não serem ‘mulherzinhas’Quero minhas filhas ‘mulher-macho’, aquela que enfrenta a vida de frente sem homem de escudo, pronta a mandar às favas qualquer um que lhe ultraje a dignidade, seja nos campos material, sentimental ou psicológico.

Alguns podem chamar isso de consciência. E até é. Mas é, antes de tudo, amor de pai.

*Publicado em 18/7/2012

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