Falemos, então, de futebol

A Copa do Mundo chega à metade, ou algum ponto próximo, produzindo ícones que não estão necessariamente dentro das quatro linhas. O primeiro deles certamente é a vuvuzela, que aliás se tornou famosa bem antes da Copa começar, pois não é de agora que atazana os ouvidos na África ou em qualquer lugar do planeta sintonizado nos jogos. Fica a torcida para que essa corneta – embora simpática – irritante, seja como uma espécie de pássaro que tenha medo de mar e não atravesse o oceano em 2014.

Outro ícone da Copa da África está o tempo inteiro dentro de campo, nos 90 minutos e, agora nestas oitavas de final, na prorrogação e pênaltis. Mas da Jabulani se fala menos como boneca da festa do que como produto industrial. Suas curvas e traições viraram debate com direito a recapitulação das aulas de física, das quais eu, pelo menos, não tenho a mais vaga lembrança.

Outro símbolo da África do Sul 2010 diz respeito mais a nós brasileiros do que propriamente ao universo geral da competição. Falo da carranca antipática do Dunga e sua cruzada contra o direito que a TV Globo acha que possui de ter acesso diferenciado à informação, usando todo o tipo de instrumento, menos o único legítimo, o jornalístico. Se o Brasil for campeão, será a glória de um técnico que por convocar mal e não escalar muito melhor, não merece o mérito como tal. Mas penso que ele é digno de ao menos um caneco, mesmo que não seja o da FIFA, o que o premie pela coragem e pela decência. Vai ser engraçado se formos campeões e no domingo da final a equipe do Fantástico tiver que se embolar com o resto da imprensa se quiser uma declaração de alguém da seleção.

Escrevo antes de jogarem Argentina e México, mas depois de ter visto o xucrutis que a Alemanha enfiou na burocrática e insossa seleção da Inglaterra. Antes, já de certa forma me encantara a vitória do Uruguai em cima da correria da Coréia do Sul. Estamos vendo a volta, na África do Sul, de um Uruguai que um dia existiu, valente e talentoso, orgulhoso da camisa azul celeste que há mais de duas décadas vinha desbotando um pouco mais a cada Copa por causa da crise em que se enfronhou o futebol que há 60 anos fez o Maracanã chorar. Quanto à Alemanha, está parecendo que esse time aprendeu a jogar no lado de baixo da Linha do Equador.

Então, que os outros times façam o que fizeram Alemanha e Uruguai, para que nessa Copa mudemos definitivamente de assunto e passemos finalmente a falar de futebol e não do que acontece fora dos gramados.

1 comentário em “Falemos, então, de futebol”

  1. Raquel Madeira

    É verdade, os repórteres “engraçadinhos” procuram tudo para não criticar as “estrelas” eleitas pela mídia e pelos patrocinadores. Como sempre, ótimo texto.

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