Fica Arruda. Onde está, é claro.*

Ouvida pelo telejornal de uma emissora, a moradora de Brasília defende a gestão de José Roberto Arruda. Diz que no governo, o homem que deverá mesmo (por incrível que pareça) passar o carnaval no xilindró, fez muitas obras, melhorou o transporte de ônibus, ordenou a cidade e por aí vai.

Não era muito difícil para Arruda fazer algo melhor do que seu antecessor, Joaquim Roriz, que perigosamente ameaça voltar a governar o Distrito Federal, de acordo com pesquisas. De fato, Arruda mandou os empresários sovinas comprarem mais ônibus, embora esse sistema de transporte no DF continue inacreditavelmente horroroso. Sabe-se lá a que custo ambiental, rasgou o DF em várias partes alargando vias, rodovias e passando viadutos para lá e para cá, seguindo a tradição brasileira de prestigiar o carro em detrimento do trem e do metrô. Iniciou a regularização dos condomínios, invasões de classe média que enriqueceram muitos grileiros de terras públicas, alguns dos quais, dizem, estão na política ocupando cargos de destaque. Pretendeu começar por aqui uma espécie de choque de ordem, que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, consegue fazer de forma mais amplificada, até porque é no Rio. Arruda investiu-se como administrador da ordem, mas esqueceu que só se chega à ordem se houver moralidade. E esse foi o maior abismo do governo Arruda.

A moradora ouvida pela televisão parece aceitar, mesmo sem pensar que aceita, a máxima do ademarismo, que é o rouba, mas faz. Não, uma administração boa não é uma administração corrupta, como disse aqui mesmo, nos comentários do blog, o poeta e professor Alexandre Pilati. Mesmo que faça obras, que mande comprar ônibus, que faça hospitais. Mesmo que torne o ensino público coisa de primeiro mundo, um governante que rouba não é um bom governante.

Queremos obras, ônibus, hospitais e escolas.

Mas tudo isso sem roubar. Ou melhor, sem que nos roubem.

* Campanha lançada do blog do jornalista Ricardo Noblat.     

3 comentários em “Fica Arruda. Onde está, é claro.*”

  1. Carla Furtado

    Não queremos quem rouba, mas faz. Queremos quem faz. Queremos quem reconhece o sacrifício diário e contínuo do cidadão e do empresário idôneo, que pagam seus impostos para que a Polis funcione. Queremos mais que retórica, mais que moralidade atuada, mais que obras – as obras nada mais são que uma vitrine de álibes que admiramos todos os dias a caminho do trabalho. Queremos que este quadro vergonhoso sirva-nos de aprendizado e que nunca mais retornem ao poder homens que usam de trapaça e choram, porque são esses os que roubam, mas fazem.

  2. Nestes dias exerço minha inabilidade de ser paciente. Tento compreender a falibilidade humana. Principlamente a minha. Mas o professor de história da esquerda autêntica ( mesma que seja governo, não é PT?) luta em batalha de campo aberto. Vejo a história repetindo-se, ainda como farsa. Lembro dos ” reis comedores de presentes” que Hesíodo alertou aos seus filhos na Grécia Antiga. Será que estes reis comiam “patetones” ( era assim que João Paulo falava, quando pequeno, dos panetones)? Seja como for não podem estragar a festa. Até porque nós somos os donos da casa e do dinheiro. Mas centenas de anos nos dizendo para ficarmos quietos e tranquilos que os “eleitos” dariam conta do recado, nos fizeram aleijados cerebrais. Em Portugal, quando na guerra com o mouros, os súditos preferiam um rei imaginário a não tê-lo. E assim somos nós. A incapacidade construída nós faz desejar qualquer um que diga qual caminho caminhar, de preferência com meias. Meia calça, soquete, três quartos, meiões…

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