Fumacê, lembrança do verão carioca

fumace

A infância é uma das fases da vida mais cercada de símbolos materiais que a representam. Todos temos na lembrança uma tampinha de refrigerante, um álbum de figurinhas, a boneca da Estrela ou o carrinho de autorama que nos remetem aos primeiros anos.

No meu caso, a estes acrescento o carro do fumacê. Para quem não está ligando o santo ao milagre explico que é um pequeno caminhão ou pick up com uma espécie de canhão na carroceria,   que passa pelas ruas borrifando remédio para matar mosquitos.

Reside nele uma das principais lembranças dos verões cariocas de minha meninice: o barulho do equipamento lá fora, passando pela rua do subúrbio carioca e, instantes depois, o cheiro enjoativo do inseticida entrando pela casa. Aliás, a recomendação era que as pessoas deixassem as janelas abertas justamente para que o remédio entrasse e desse cabo da mosquitada. Estranha configuração a da minha memória de verão: calor, praia, picolé da Kibon, banhos de mangueira e…fumacê jogando inseticida.

Eis que hoje, às 5h30, o que ouço romper a quietude do fim da madrugada no Planalto Central, 1.200 km distante do subúrbio que ainda me dói a alma? O bizzzzzzzzzzzzzzzzzz irritante seguido em menos de dois minutos pelo cheirinho de inseticida. Mantive abertas as janelas, que assim já estavam por causa do calor que também assola Brasília. Provavelmente, o alvo é o mosquito da dengue. O cheiro, e mesmo o barulho, estão mais fracos do que há 40 anos, ao contrário da minha memória, ainda tão intensa.

Não sei se o fumacê resolve mesmo para matar mosquito, mas serve bem pra dar saudade em homem grande que ainda espera ter muita vida pela frente.

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