Dentro da Catedral de Brasília, entramos em contato com um mundo de harmonia entre forma e luz. É como se naquele local de oração, não obstante ser um ponto turístico, recebêssemos a iluminação dos próprios anjos.
Sensação contrária advém dos corredores subterrâneos do Congresso Nacional, principalmente o corredor que liga às comissões ao anexo dos gabinetes na Câmara dos Deputados. Ali, a impressão é a de que estamos em uma mina de carvão acarpetada, onde é impossível ter a mínima idéia se o dia é de sol ou de tempestade lá fora.
Quem trabalha nos Ministérios nas salas viradas para o leste, ou seja, para o nascer do sol, tem a visão privilegiada do céu de Brasília e do Lago Paranoá. Entretanto, nas salas viradas para o oeste, torra-se a tarde inteira sob o sol do Planalto Central, especialmente na inclemência da seca do meio do ano. E aí, haja eletricidade para sustentar o ar condicionado.
Os Palácios da Alvorada e do Planalto detém um conjunto perfeito de concreto, vidro, luz, espaço e ventilação, pelo menos na maioria de seus ambientes. Já o espaço do Museu da República, com seu enorme piso externo de concreto, sem uma árvore sequer, chega a ser impiedoso com o morador de uma cidade que em boa parte do ano é árida e precisa da caridade do verde.
Não me parece, então, que genialidade seja perfeição a todo momento. Mas não é porque os gênios não são perfeitos que não podem ser considerados gênios.
Quem critica Niemayer, não deve manter os olhos apenas onde a genialidade não chegou à perfeição. O reconhecimento mundial ao trabalho do arquiteto talvez signifique que ele a tangeu na maioria das vezes.
E quem o considera gênio, aceite as críticas justamente por isso: genialidade não é exatamente perfeição, pelo menos não sempre.