Greve: direito de andar de metrô, de ir à escola.

Cerca de 150 mil pessoas enfrentam, há dois dias, uma verdadeira odisséia para ir de casa ao trabalho e retornar no final da tarde no Distrito Federal. É que os metroviários estão em greve, pedindo um aumento nos salários de nada menos do que 120%, algo que me parece jamais conquistado por nenhuma categoria de empregados em toda a história do sindicalismo, quiçá no mundo inteiro.

Sem metrô, a multidão que viaja espremida nos trens precisa ir e voltar mais espremida ainda, se apertando para caber nos ônibus das viações “Latas de Sardinha S/A” que operam o transporte público na capital do país. Nesses ônibus, viaja todos os dias uma outra multidão, entalada em verdadeiras carroças com defeitos nos freios e pneus carecas.

Os metroviários não pensaram nisso, nem no pagamento descontado por causa do atraso do trabalhador que eles transportam todos os dias, muito menos nas duas ou três horas a mais que este mesmo trabalhador levou para chegar em casa depois de uma jornada de trabalho exaustiva. Não pensaram, como nunca foram pensadas, as consequências de uma greve em serviços considerados essenciais. Decide-se cruzar os braços para pedir aumento e pronto: que se vire da melhor maneira possível a população para ir e vir de manhã bem cedo ou altas horas da noite.

Quando voltarem da greve, todos estarão perdoados pela mãezona estado, que não demite, que não corta ponto, bem diferente da madrasta iniciativa privada.

Não sei se a greve é mesmo o único instrumento de pressão. Legítimo é, e certamente é o mais cômodo. Que tal manterem o metrô funcionando e formarem uma comissão de 100 ou 200 para acamparem na porta do governador, encherem o saco com buzinas e tambores até que ele se digne a recebê-los? Provavelmente chegando na hora ao trabalho e em casa, a população não apenas apóie os trabalhadores como ainda ache que o aumento deve ser maior.

Ontem os alunos das escolas públicas do DF não tiveram aulas. O Sindicato dos professores resolveu que ninguém deveria dar aula porque a Câmara Legislativa iria votar o aumento de dez por cento para o magistério e (sabe como é, né?) havia a necessidade de mobilização para que os deputados aprovassem o reajuste. Como se deputado precisasse ser acossado para aprovar aumento de servidor público em ano de eleição.

Quem ouve “mobilizar a categoria para pressionar deputados” imagina uma verdadeira romaria de professores à Câmara Legislativa para a sessão que começou às 15h e que impediu as aulas já no turno da manhã. À tal da mobilização, compareceram cerca de 300 professores, fatia magra perto dos mais de 20 mil que dão aulas na rede pública do DF. Tivessem formado uma comissão com um número até maior para conseguirem o que é justo, e mantido o restante em salas dando aulas, certamente os professores receberiam apoio da mãe que precisa que o filho vá à escola porque não tem com quem deixá-lo na hora do trabalho, e a gratidão daquela que manda a criança ao colégio principalmente para comer.

2 comentários em “Greve: direito de andar de metrô, de ir à escola.”

  1. A greve foi um poderoso instrumento de pressão ao tempo onde, no Brasil, a democracia era um sonho. Com meios de comunicação controlados pelos patrões parar chamava atenção para as necessidades justas dos trabalhadores. Hoje com a mídia entrando em nosso banheiro há meios de mostrar “in loco” o que necessita o trabalhador. Melhor se o patrão impedir o acesso. Como professor público gostaria de saber qual a vantagem de deixar o aluno em casa para fazer pressão junto ao governo.

  2. Denise Giusti

    Infelizmente as pessoas são extramamente egoístas, só vêem o que lhes afetam, não enxergam as coisas como um todo. Todos querendo se dar bem, este é o lema da maioria dos brasileiros. É preciso conscientização e mudar, pensemos mais o que nossas atitudes e atos podem influenciar na vida do outro!

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