Mamede Mustafa Jarouche, referência em tradução.

Tradução é das tarefas mais árduas da literatura. Imagine, então, se o trabalho é passar um livro do árabe para o português. Eu e o poeta Alexandre Pilati tratamos do assunto no bate-papo literário da rádio BandNews 90,5 FM, Brasília a partir do trabalho de Mamede Mustafá Jarouche. A nossa conversa vai ao ar às 2ªs feiras às 16h51 e às 3ªs às 11h31. Todos estão convidados a ouvir. Agora, confira o texto de Alexandre Pilati.

Um pouco da literatura árabe em português.

Por Alexandre Pilati.

Com o recente lançamento do livro O leão e o chacal mergulhador, pela editora Globo, o nome do paulista Mamede Mustafá Jarouche, vai se consolidando a principal referência da tradução de literatura árabe do país. Graças a ele, diversos textos da tradição narrativa do mundo árabe estão disponíveis ao leitor brasileiro e com uma qualidade impressionante. Jarouche nasceu em Osasco, São Paulo, em 1963. Diplomou-se bacharel em Letras, Português e Árabe pela Universidade de São Paulo. Além disso, estudou o árabe, que era o idioma de seu uso doméstico, também na Arábia Saudita, no Iraque e no Egito.

Quando começou a ensinar árabe na USP, em 1992, Jarouche iniciou sua prática de tradução literária que já lhe garantiu vários prêmios como o Jabuti de Melhor Tradução, o de Melhor Tradução do Ano da Associação Paulista dos Críticos de Arte, e o Prêmio Paulo Rónai de Tradução todos pela obra As mil e uma noites.

Todos os seus trabalhos têm em comum o fato de serem traduções de narrativas anônimas recolhidas na tradição oral árabe, que é riquíssima na fluência do enredo. Essa fluência é garantida na tradução pelo grande conhecimento da língua por parte de Jarouche, que faz com que cada texto seja uma saborosa experiência de leitura.

As obras

O leão e o chacal Mergulhador (2010) é um texto recolhido junto à tradição oral da literatura árabe. Ele se configura, assim, numa mescla de tratado político, livro de etiqueta da corte, crítica de costumes e fábulas que buscam traduzir um ensinamento, mais ou menos como as famosas fábulas de Esopo que se tornaram tradicionais no ocidente.

Encadeando e desencadeando ensinamentos, sentenças, máximas, provérbios e pequenos contos, uma narrativa vai sendo costurada, como se cada parte dela fosse a figura de uma tapeçaria oriental.

Os contos das mil e uma noites (V.1 2005; V.2 2006; V.3 2007) foram traduzidos a partir dos três volumes do manuscrito árabe da Biblioteca Nacional de Paris, a fonte mais valiosa para a edição do livro. Além disso, o tradutor comparou esses manuscritos com quatro das principais edições árabes do livro e utilizou ainda quatro manuscritos do chamado “ramo egípcio antigo”. A publicação do Livro das mil e uma noites está projetada em cinco volumes e já tem 3 desses volumes disponíveis nas livrarias, todos pela editora Globo. A edição apresenta centenas de notas sobre aspectos lingüísticos ou que explicam o cotejo entre manuscritos e edições árabes, além de anexos valiosos, com traduções de passagens do livro que possuem mais de uma redação, e que servem de elementos de comparação para o leitor interessado na história da constituição do próprio ‘Livro das mil e uma noites’.

Todo esse esforço torna o trabalho de Jarouche uma referência obrigatória daqui em diante para os admiradores e estudiosos da literatura árabe, no Brasil e no exterior.

Histórias para ler sem pressa (2008) é um apanhado de 30 contos curtos, a maioria de uma página, que datam de um período que vai dos séculos IX ao XVIII. Os títulos das pequenas narrativas, que são ilustradas pelo artista plástico Andrés Sandoval, dão bem a idéia de seu saboroso conteúdo, reflexo de um mundo ao mesmo tempo mercantil-agrário, patriarcal e mágico, em que a tradição domina. Veja alguns deles: “O poeta e o vendedor de melancias”, “O peregrino, o colar e o perfumista”, “Um pão por mil moedas de ouro”, “O mercador desonesto” e “Um orador esquecido”. 

 

2 comentários em “Mamede Mustafa Jarouche, referência em tradução.”

  1. Estou lendo o vol. 3 do Livro das Mil e Uma Noites. Um trabalho hercúleo e magnifico de Mamede Mustafa Jarouche. Que Deus o conserve! 🙂

  2. Grande divulgação, André. Quantos escritores e tradutores de grande qualidade existem e muitos não conhecem. Nessa pequena leitura, fiquei tentada pelo Histórias para ler sem pressa. Vou colocar na fila do “a comprar”. Bjs.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima