Mentes preocupantes

Fiquei espantado – e assustado – com o resultado da tese de mestrado que uma amiga faz sobre a percepção dos jovens de hoje em dia sobre a ditadura militar.

Estudantes de diversas áreas do conhecimento entendem como “ mal necessário” os 20 anos que os generais passaram sentados na cadeira mais importante do poder no país.

Como justificativa, alegam que a ditadura livrou o Brasil do comunismo, ou seja, fizeram atravessar quatro décadas a paranóia que moveu a UDN e levou às ruas a Marcha com Deus pela Liberdade.

Penso que as respostas não careçam apenas de falta de informação ou visão histórica (como poderia, à época, um Presidente levar o Brasil ao comunismo sendo dono de latifúndios e trabalhista por conveniência política e oportunismo eleitoral?). Quando pensamos que crianças foram torturadas na frente dos pais, passa a ser também falta de qualquer sentimento que se apiede do ser humano.

Mas é de se enxergar nessa postura – paradoxal quando se trata de jovens defendendo forças que combatiam a liberdade – a culpa dos que assumiram o poder na chamada redemocratização. É provável que o costume da corrupção e do uso da política como instrumento de atendimento a interesses particulares tenham impedido o nascimento, no ideal desses jovens, da crença de que a democracia não é perfeita, mas é bem melhor do que qualquer outra opção de governo.

A conduta lamentável de homens públicos nesses quase trinta anos coloca lenha no fogaréu da falta de informação dos que justificam – e indiretamente defendem – a estupidez e a crueldade como prerrogativas de mandatários. E agora, a partir dessa pesquisa, o que mais preocupa é que essa postura não está mais restrita aos conservadores que viveram, apoiaram e muitas vezes fomentaram a repressão. Ela começa a brotar nas mentes que deveriam, até por uma questão digamos hormonal por causa da juventude, defender a liberdade.

2 comentários em “Mentes preocupantes”

  1. Fábio, é uma tese feita por um aluna da UnB, ou seja, a instituição já dá respaldo a esse resultado. Mas seu comentário é muito importante.Obrigado.

  2. Desculpe, mas “os jovens”? Ela entrevistou todos? De todas as classe sociais e níveis de escolaridade? Me parece que o recorte da pesquisa muito provavelmente aqui é a própria definição do resultado. A esmagadora maioria dos jovens graduandos da USP, por exemplo, não espantam ninguém sendo pró-ditadura.

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