Minha pequena história com Saramago

Em uma das vezes em que José Saramago veio ao Brasil, fui escalado para sua entrevista coletiva com os jornalistas. Ele recebeu a Imprensa em uma tarde ensolarada naqueles hotéis de Copacabana ou Ipanema, não lembro ao certo. E eu que já trabalhei em tantos lugares, também não me recordo por qual veículo entrevistei Saramago. Para encerrar, serei sincero: igualmente não me lembro do que o escritor conversou com os repórteres. Talvez fosse sobre O envangelho segundo Jesus Cristo, já que, seguramente, estávamos no início dos anos noventa, época em que, se a informação não me trai, a obra foi lançada.

Daquela tarde tipicamente carioca, me ficou a imagem tranquila de Saramago com seus óculos pretos de aros grossos e sua camisa social azul de mangas arregaçadas até metade do antebraço, em tocante harmonia com seu sotaque carregadamente luso e seus cabelos raros em cima, mas cheios e crespos na nuca.

No meio da entrevista, me peguei pensando que se eu jamais houvesse visto Saramago na vida, e entrasse em um táxi com ele ao volante, poderia jurar que o escritor era mesmo aquilo que eu via: um português que veio para o Brasil na década de 40, que dirigia seu táxi antigo, morava em Madureira e gostava de escutar os jogos do Vasco pelo rádio.

E garanto, sem medo de errar, que se Saramago fosse posto em um daqueles táxis amarelos do Rio para fazer uma corrida entre Tijuca e Marechal Hermes, pouca gente desconfiaria que ali estava uma das melhores cabeças do século 20.

2 comentários em “Minha pequena história com Saramago”

  1. Raquel Madeira

    Acho que a possibilidade de ter contato com grandes figuras, como Saramago, é a maior vantagem de ser jornalista. ótimo texto.

  2. Meu pai conheceu Saramago. Almoçou com ele em um hotel em Lisboa e quando no Rio, para autografar algum lançamento olhou para meu pai e o reconheceu, com sua memória de escritor. Há uma foto com o escritor nobel e meu pai, escritor menor. Saramago saudou meu pai com um braço levantado como fazemos quando avistamos um conhecido. Como dois conhecidos, de passagem na rua, que se avistam e se alegram por isto.

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