Normalidade

Os que rechaçam a idéia da intervenção federal no Distrito Federal argumentam que a vida dentro das instituições transcorre dentro da normalidade. Classificam como normalidade a eleição indireta de um governador por um parlamento local que tem pelo menos 1/3 de seus componentes denunciados por corrupção.

O governador, em que pese não haver qualquer denúncia contra ele, integrou o último governo que chafurdou na lama e é cria política do antecessor do último mandatário na capital do país. Vale lembrar que as denúncias sobre o esquema de corrupção local em Brasília, que estarreceram o país no ano passado, atingem também o “anteontem” do governo do Distrito Federal. O penúltimo governador também se vê às voltas com rumores de bandalheira, o que, inclusive, reduziu a apenas seis meses a sua passagem pelo Legislativo.

Pensando em normalidade, aproveito o protesto de um ouvinte da BandNews FM – 90,5 Brasília. Na última semana ele relatava o périplo de sua empregada a procura de atendimento para o pai na carnificina dos hospitais públicos. Esperou seis, sete, oito horas para ver a cara do médico, sendo que havia gente há quinze horas no banco da emergência.

Enquanto isso, a mesma suspeita Câmara Legislativa que elegeu o governador, aprovava a entrega de uma bolada de R$ 6 milhões que foram repassados aos empresários de ônibus. O dinheiro era uma espécie de complemento para alimentar o sistema estúpido de recarga de cartões dos estudantes das escolas públicas, que assim entram “de graça” nos coletivos. Ainda não descobriram o quão mais simples seria se o estudante, para viajar de graça, necessitasse apenas do uniforme e da caderneta escolar. Aliás, descobriram sim. Descobriram também que desse modo simples não era possível meter a mão no dinheiro público. Mesmo que não se prove, todo mundo sabe que sai das empresas de ônibus parte da lenha que queima na fogueira das campanhas políticas.

Fora isso, há alunos sem aula de informática porque a burocracia não autorizou a instalação de rede para que os computadores sejam ligados; há um metrô que sai dos trilhos, que atrasa e para no meio do caminho; operações tapa-buracos nas ruas tapando os mesmos buracos de todos os anos, e uma Polícia Militar dizendo que não pode fazer nada contra arruaceiros que gritam e escutam música alta em lojas de conveniência pelas madrugadas. Ou seja, tudo realmente dentro da normalidade.

Essa revoltante normalidade brasileira que já conta 510 anos.

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