O Brasil de Edmo Zarife

É impossível dissociar um jogo da Seleção Brasileira da vinheta que ecoa logo após um gol ser marcado. Foi na Copa de 78 que ouvimos pela primeira vez o Brasil!!!! seguindo o grito do narrador depois que a bola beija a rede adversária e faz a alegria nacional. Começou no futebol, mas derrubou os muros dos estádios e avisa dos triunfos brasileiros não apenas nos campos, mas também nas quadras, mares e piscinas. Ouve-se também em alguma reportagem que glorifique o país, assim como em quadros humorísticos que satirizem as mazelas nacionais. Enfim, o Brasiii! (e não Brasil-sil-sil-sil, como às vezes a vinheta é imitada de forma caricata) há muitos anos é uma espécie de carimbo verde e amarelo, só que sonoro.

O dono da voz impostada, que com jeito de trovão na verdade grita sem gritar, foi uma pessoa bem menos famosa do que a vinheta. É provável que o número de pessoas que saibam de quem se trata seja nem menor que o talento da seleção do Dunga.

Trata-se de Edmo Zarife, um homem que foi não apenas a cara – ou a voz – da Rádio Globo do Rio de Janeiro, mas do próprio rádio carioca. Era do tamanho de sua voz. Quase não ria, mas era extremamente brincalhão. Quem com ele cruzasse nos corredores, ouviria um Ê, papai! Creditava-se a brincadeira a um cacoete de outro apresentador da Rádio Globo, Luiz de França. Mesmo que fosse mania do outro, virou bordão de Edmo Zarife. Já cedo se ouvia à saída dos estúdios o Ê, papai!,  e ainda à noite Zarife estava por lá, um exemplo de dedicação, de amor ao trabalho.

Como em muitos outros casos, Zarife não levou para a outra vida o reconhecimento material compatível com seu trabalho. Descontando a força da expressão, se houvesse recebido apenas um centavo por cada vez que Brasiiiil! foi ao ar na TV e no rádio, teria mais dinheiro que a família Marinho. Mas lembro-me dele saindo na escuridão da noite dentro de um fusquinha antigo, que assim como o reconhecimento também era incompatível, só que com seu tamanho, com as injustiças dos veículos de comunicação, do futebol e da vida.

4 comentários em “O Brasil de Edmo Zarife”

  1. MARCOS OLIVEIRA

    Querido André, apenas uma pequena correção. A vinheta foi criada na Copa de 70, no tricampeonato do México. A ideia foi do Mário Luiz. E desde essa época ela é tocada na rádio. A TV Globo é que passou a usá-la anos depois. Mas o Zarifão levou o melhor da vida: o carinho e o reconhecimento dos amigos. Porque para o outro plano é isso que levamos e não os bens materiais adquiridos em vida. Abração, amigo.

  2. Carlos Oliveira

    Nossa, André. Eu era fã do Edmo Zarife. Inclusive, quando criança, lá no interior de Goiás, sem televisão em casa, isso no final dos anos 80, nossa paixão era o Rádio, a Globo. Gostava muito do Edmo. Me lembro bem da vinheta que cantava o nome dele. Ficamos muito tristes quando ele morreu. Estou entre os poucos que sabem que a vinheta Brasil- sil-sil-sil é dele. Abraço.

  3. Lembro de um dia que fui encontrar voce na radio e me apresentou a ele, grande figura, boa lembrança

  4. Denise Giusti

    Bom deve ser lembrado, mesmo não estando mais em corpo físico por aqui, de onde está com certeza recebeu as energias positivas dessa crônica!

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