Cerca de dez anos atrás a Fiat lançou um modelo esportivo do Pálio.
Tinha cores fortes – vermelho, amarelo -, rodas de liga leve e umas faixas laterais na parte baixa das portas imitando carros de competição, para firmar bem a pegada esportiva.
A imprensa automotiva chamou o carro de “foguetinho”, por causa do arrojado (para a época) motor 1.8.
Fiquei apaixonado pelo carrinho, quis comprar.
O dono da oficina em que eu levava meu carro me desaconselhou: o motor era nervoso, mas bebia demais, eu ia perder muito dinheiro quando quisesse vendê-lo, pois quem comprava um Fiat Pálio queria economia.
Não era um bom custo-benefício, ele resumiu a macarronada.
E eu atendi seu conselho.
Domingo passado, dei de cara com um desses Fiats na vizinhança: vermelhinho, lindo, super conservado, como se me dissesse: me pega, cara, e me leva para a estrada.
Fiquei olhando a lataria que brilhava à luz da manhã e pensando de quantas curvas fechadas e retas maravilhosas, daquelas que a gente enfia o pé, abdiquei por causa do tal valor de revenda.
O dinheiro do carro que comprei no lugar do Paliozinho nervoso, e que vendi tempos depois, já evaporou e não tenho a mais vaga lembrança de quanto era e de quanto lucrei (e se lucrei), ao contrário do que aconteceria com as curvas e as retas, que estariam até hoje aqui comigo, em deliciosas lembranças.
Deixei de ser feliz por causa de custo benefício.
Como o mundo nos impõe e consegue, na maioria das vezes, nos contaminar com sua pobreza.
,André , o bom da vida é vivermos o suficiente para rever valores. A isto podemos chamar de maturidade, bom senso, consciência da nossa efemeridade. Custo benefício é discurso para quem ainda está verde na vida. Adorei seu relato.