O deboche antidemocrático do capitão

Não é de se estranhar a atitude do capitão Bruno Rocha, comandante do Batalhão de Choque da PM do Distrito Federal.

Rir de forma debochada para uma câmera, mesmo que amadora, dizendo que lançou porque quis spray de pimenta em manifestantes, é só mais uma prova da falta de preparo psicológico – não falo técnico ou operacional – das polícias país afora. Historicamente agem com raiva, raiva sempre batizada de rigor nas explicações oficiais.

Talvez, então, aqui no isolamento de meu ofício, eu também possa usar o fígado para questionar se cara a cara com um bando de traficantes armados, no meio de uma favela carioca, o capitão teria lançado mão do sarcasmo.

Mas o assunto, dentro do assunto, é outro.

Dois outros aspectos é que na verdade me espantam.
capitão
O primeiro é ver alguns jornalistas, ou outros profissionais de comunicação, apoiarem a ação desastrosa da PM do DF no 7 de setembro. Se a repressão foi necessária contra os vândalos, não foi nem jamais será contra jornalistas e fotógrafos que estavam trabalhando.

Ainda argumentam que na cobertura de uma guerra, repórteres sabem que podem morrer. E muitos realmente morrem. Mas são situações totalmente diferentes. Profissionais foram agredidos fisicamente e com o tal spray de pimenta simplesmente porque estavam olhando ou fotografando o que acontecia. Quando estamos cobrindo esse tipo de manifestação, estamos sim sujeitos a bombas, pedradas e fumaças que levam às lágrimas, mas nunca como alvo, o que, pelos relatos e imagens, claramente não foi o que aconteceu no Dia da Pátria.

O segundo aspecto que me espanta é que até agora – e por isso esperei bastante para escrever sobre o assunto e o faço no final de tarde de terça-feira, 10 – apenas oficiais do comando da PM falaram sobre o assunto em nome do Governo do Distrito Federal, e é claro que as palavras foram favoráveis à ação da PM. No máximo, a velha cantilena de que “se houve excessos, eles serão punidos”, como se, de novo historicamente, fosse corriqueiro a polícia reconhecer que agiu com excessos.

Acho pouco para um governo, cujo partido sempre lutou pela democracia e contra a repressão do aparato policial.

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