O ideal e o possível

O ideal nem sempre é o possível de se conseguir. Acho mesmo que quase nunca é.

É claro que o Brasil deveria possuir um sistema de ensino que oferecesse acesso natural a todas as pessoas, independentemente de qualquer fator, fosse racial ou econômico.

Aliás, o ideal era que nossa economia fosse há muito mais tempo o que dizem que ela é agora, permitindo justiça social que nos levasse todos aos melhores bancos escolares em condições equânimes, sem que houvesse necessidade de polêmica, discussão jurídica. Sem que se precisasse destampar o pote onde se guarda o veneno do preconceito.

Mas não é assim e algo precisava ser feito para que a situação melhorasse, ou começasse a melhorar; para que pudéssemos sonhar o possível como rascunho do ideal.

O Brasil branco deve mais ao escravo do que deve ao português, ao italiano, ao japonês. Deve a própria dignidade. Deve perdão.

Ou não? Então não há resgate a ser feito desse passado tenebroso que jogava dos navios em alto mar os negros doentes que não chegariam vivos? Não devemos nada pelas duzentas, trezentas chibatadas em praça pública que praticamente descarnavam corpos nus?

Então meu conceito de dívida é outro, perdoe-me. Talvez seja parecido com o do Supremo Tribunal Federal em sua avassaladora unanimidade.

É claro também que o critério da pobreza seria o mais eficiente para se estabelecer o sistema de quotas. Acontece que as quotas para os negros cumprem quase que totalmente esse papel, pois como disse o ministro Luiz Fux, em seu voto, a abolição libertou os negros dos senhores e os fez escravos do sistema.

Aceitemos o sistema de quotas como o possível para dirimir, ao menos por enquanto, a desiguldade que não pode mais se sustentar. E que o país busque rapidamente o ideal.

2 comentários em “O ideal e o possível”

  1. Raymundo Jr.

    Também penso assim André!
    Tenho vergonha, mesmo de um passado distante, mas que até hoje impacta o nosso País.
    Se alguém se acha melhor neste mundo, deveria refletir sobre o seu texto.
    Parabéns,
    Raymundo Jr.

  2. Denise Giusti

    Acho que também deveriam ter cota para os índios, afinal eles chegaram aqui primeiro! Ótimo texto!

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