Levei minhas três filhas para assistir ao documentário Cora Coralina: Todas as vidas.
Já no corredor do shopping, a mais velha disse, mãos nos bolsos, pensativa em seus 14 anos.
– Pai, eu entendi tudo o que ela quis dizer nos poemas. Por que outros poetas não escrevem assim, pra gente entender o que eles estão dizendo?
Tentei argumentar que muitas vezes à poesia não cabe apenas o simples papel do entendimento fácil. Muitas vezes é necessária também a construção de imagens fora do senso comum, do normal, do padrão, imagens que inflem as asas da imaginação do leitor.
Tudo bem, ela concordou, mas em seu rosto, visivelmente estava a preferência pelo estilo simples de poeta goiana em dizer coisas belas..
Essa parte do documentário é a que cabe a nós escritores: estamos nos fazendo entender? Nossa mensagem está cumprindo seu papel, ou o que dizemos faz sentido apenas para o nosso restrito universo de autor e nossa pretensão estética?
A outra parte do documentário diz respeito a todos nós, poetas, advogados, técnicos em edificações, oficiais de cartório… e é bem mais importante que qualquer reflexão sobre o fazer poético.
O que fazemos diariamente para justificarmos nossas vidas? Estamos colocando nelas toda a alegria, força, dedicação, esperança, energia e amor que elas merecem? Nós somos felizes com nossas vidas?
Ao final do filme, a poesia acaba sendo a menor parte de Cora Coralina.