O uso escuso de Tiradentes e de todos nós

Julio Machado é Joaquim José da Silva Xavier na telona Foto: Imovision / Divulgação
Julio Machado é Joaquim José da Silva Xavier na telona
Foto: Imovision / Divulgação

O diretor Marcelo Gomes explica que para compor o Tiradentes de seu filme Joaquim, utilizou a ficção aliada à pesquisa de registros históricos.

Pois o resultado que conseguiu parece bem próximo ao que realmente deve ter sido o principal nome do mais famoso movimento que tentou separar o Brasil de Portugal.

Joaquim mostra Tiradentes como homem do povo, que em determinado momento dá um basta à usurpação do estado.

Nesse instante, nasce o idealista, que bem intencionado sai pelas Minas Gerais pregando a libertação do país das garras da coroa portuguesa, pensando não apenas em si, mas na melhoria da condição de nossa miséria histórica.

Ficção ou não, o Tiradentes de Marcelo Gomes me pareceu bater com o que historiadores de várias correntes nos apresentam, inclusive quanto às contradições do mártir da independência.

Mas o que me pareceu ainda mais de acordo com a real história do país foi o caráter cínico da Inconfidência Mineira mostrado no filme.

Sem qualquer conexão com o romantismo que os livros de escola impingem à Inconfidência, Marcelo Gomes deixa clara a instrumentalização da ingenuidade de um homem do povo para mobilizar a massa, dobrar o maldito domínio luso e conquistar apenas para uma camada privilegiada seus interesses imediatos e a longo prazo, sem dar a essa massa – não a título de recompensa, mas de justiça – a dignidade com que ela, massa, nunca foi tratada.

Qualquer semelhança com o que aconteceu no Brasil nesses mais de duzentos anos que separam a execução do Alferes dos dias atuais não é mera coincidência.

É só a história do Brasil, crua e real, se repetindo.

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