Onde estavam as bailarinas negras?

Minha filha do meio estuda balé em uma das academias mais conceituadas de Brasília.

A apresentação de fim de ano foi neste fim de semana e reuniu, no teatro de um conceituado hotel da cidade, algumas boas centenas de pais, mães e avós, ótima oportunidade para que as afetações exageradas de classe média virassem disputa de quem tirava mais fotos ou armazenava mais horas de vídeos nos smartphones.

Acho que pelo menos umas 50 meninas subiram ao palco, quem sabe até mais. Fiquei até quase o final e saí sem ver sequer uma menina negra se apresentar no meio de tanta criança branquinha, lourinha (como minha filha é) e de cabelo lisinho bem padrão encantado de um espetáculo de balé.

A única moça negra que vi estava no balcão do café do hotel. Servindo.

Tudo bem que se discuta e não se concorde com políticas de promoção da igualdade, mas não é possível que entre uma foto e outra no aparelho de última geração, ou entre um e outro gritinho exagerado por causa da pupila que está no palco, a classe média não arranje um tempinho para pensar que uma situação como essa – a de não haver uma menina negra dançando balé na boa academia de elite de Brasília – não é normal, não é justa e precisa ser mudada.

Não é possível que mesmo quem não concorde com quotas ou qualquer outro sistema não ache que algo precise ser feito o quanto antes.

Antes que chegue o tempo de eu assistir às minhas netas dançando balé.

Preciosa Adams - Bailarina da Academia Bolshoi - Moscou. Fonte: http://arquivo.geledes.org.br/
Preciosa Adams – Bailarina da Academia Bolshoi – Moscou. Fonte: http://arquivo.geledes.org.br/

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